Um balanço de 2024: expansão do crédito, alta dos juros e a questão climática
Chegamos à reta final de 2024. Ao longo do ano, abordamos neste espaço as transformações do mercado de crédito e acompanhamos as mudanças conjunturais que afetam esse mercado. O ano reservou algumas surpresas, reforçou tendências e apontou desafios. Esse é um bom momento para fazermos um balanço.
No início do ano, havia a perspectiva de que a inflação seguiria uma trajetória mais favorável, sem grandes prejuízos para a atividade econômica e para o emprego. Essa era a hipótese do “pouso suave”, expressão utilizada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para descrever o cenário econômico global no início do ano. O que se verificou, no entanto, foi uma inflação mais persistente, levando ao adiamento do corte de juros na economia americana – o corte só ocorreu, de fato, em setembro de 2024.
No Brasil, o segundo semestre foi marcado pela alta dos juros, algo que, no início do ano, estava fora do radar do mercado. A mudança na trajetória dos juros reflete as projeções elevadas para a inflação. O ciclo de alta da taxa SELIC foi a principal mudança no cenário e, por ter um efeito defasado na economia, pode trazer implicações para a trajetória do crédito no próximo ano.
Se, por um lado, a inflação persistiu, por outro lado, a atividade econômica surpreendeu. As projeções de crescimento do PIB em 2024 foram revisadas para cima ao longo. De acordo com o Boletim Focus, estima-se que a economia brasileira deverá crescer 3,2%. No início do ano, as projeções desse Boletim apontavam para um crescimento de 1,6%. Reflexo do crescimento acima do esperado, o desemprego recuou, ao passo que a renda média avançou. Mesmo com a evolução favorável da renda, o percentual de negativados permanece elevado, em torno de 45% da população adulta, de acordo com dados do setot dos birôs de crédito.
O crédito foi um dos motores da economia – nesse caso, conforme o previsto no início do ano. As previsões do início do ano sugeriam uma retomada do crédito empresarial, que desacelerou ao longo de 2023. E foi o que, de fato, se observou. Dados do Banco Central do Brasil mostram que o saldo de crédito a Pessoas Jurídicas cresceu 8,9% na comparação entre outubro de 2024 e o mesmo mês de 2023. No segmento de crédito a Pessoas Físicas, saldo de crédito cresceu 12,0% na mesma base de comparação, mantendo um ritmo elevado de avanço. Com esses resultados, a relação crédito-PIB chegou a 54,5% em outubro de 2024, ante 52,6% em outubro de 2023. A tabela abaixo mostra as projeções feitas no início do ano e as projeções mais recentes para 2024.
O ciclo favorável de crédito reflete as condições conjunturais e as diversas transformações estruturais que ocorrem nesse mercado. Em 2024, o setor dos birôs de crédito comemorou os cinco anos do Cadastro Positivo, com evidências de impactos no crédito como a visibilidade para crédito para 21,3M pessoas físicas e juridicas, maior precisão na análise e melhoria na nota de crédito para maioria das pessoas físicas se consolidando como um direito do consumidor. Esse marco foi uma oportunidade para debatermos a contribuição dos diversos setores da economia para inclusão financeira através do compartilhamento de dados positivos.
Outras medidas modernizadoras do mercado de crédito ainda estão em fase de maturação, como o marco de garantias, aprovado em 2023. A ampliação do escopo das informações de crédito e, no caso de inadimplência, o acesso facilitado às garantias da operação contribuem para a redução de riscos, possibilitando uma expansão mais segura do crédito.
Ao longo do ano, eventos climáticos extremos afetaram o Brasil e o mundo. Esse tema relaciona-se com o sistema financeiro pois os mercados de crédito e de capitais elegem os projetos empresariais, com maior ou menor impacto ambiental, a serem financiados. A tendência crescente é de que os critérios ambientais – além dos critérios sociais e de governança – entrem na conta dos riscos, criando um incentivo para que práticas sustentáveis sejam adotadas.
Alguns temas chave atravessam 2024 e continuarão na pauta de 2025. É o caso da discussão climática, do elevado nível da inadimplência e da persistência inflacionária. As projeções mostram que novas altas da taxa básica de juros devem ocorrer pela frente. Nesse sentido, o comprometimento com as metas de gastos estabelecidas pelo arcabouço fiscal será crucial para a desaceleração da inflação e para limitar o ciclo atual de alta dos juros.
O setor dos birôs de crédito renova, para 2025, o compromisso com a inclusão financeira através da visibilidade para crédito e com a acuracidade da análise de riscos e fraudes, incluindo soluções que abarcam a dimensão climática, por meio dos seus serviços, das ações educativas e da participação ativa nas discussões sobre o futuro do mercado de crédito brasileiro e internacional. Para além das oscilações conjunturais, que continuarão sendo monitoradas, seguiremos com um olhar para medidas estruturantes, com efeitos de médio a longo prazo.
Boas festas e até breve!
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