O bem-estar financeiro alcançado por uma pessoa não está ligado a quanto ela ganha por mês. Essa foi uma das conclusões do estudo “The Employer´s Guide to Financial Wellbeing 2018-19” (em tradução livre: O Guia do Empregador para o Bem-estar Financeiro), realizado no Reino Unido pela empresa de impacto social Salary Finance. Participaram mais de 10 mil empregados de 25 diferentes atividades econômicas.
Os dois grupos de colaboradores que apresentaram maior nível de preocupação financeira foram o de ganho entre 10 mil e 14,9 mil libras por ano e o de ganho acima de 100 mil libras por ano. Ou seja, as duas pontas do levantamento: o de menor e o de maior ganhos. E, ao contrário do que até então se imaginava, o segundo grupo, de rendimentos elevados, apresentou índices de depressão e de ataques de pânico superiores a qualquer outro. A conclusão para os pesquisadores é que a causa da preocupação financeira não está ligada ao rendimento alcançado por uma pessoa, mas à forma como essa mesma pessoa administra seu dinheiro.
A pesquisa ainda descobriu que 40% dos empregados estão muito preocupados com suas finanças. Esses profissionais têm quase oito vezes mais chances de não finalizar suas tarefas e quase seis vezes mais chances de arrumar problemas com seus colegas.
A ausência de bem-estar financeiro também pode levar, como vimos, a problemas de saúde. Esses empregados têm nove vezes mais chances de sofrer com insônia, quase cinco vezes mais chances de apresentar depressão e quase quatro vezes mais chances de desenvolver ataques de pânico. Podemos afirmar então que a cada dez empregados no Reino Unido, quatro estão mais propensos a desenvolver problemas de saúde por causa da preocupação financeira.
De acordo com pesquisa da seguradora Zurich realizada no ano passado, entre os motivos mais comuns de preocupação dos adultos britânicos estão aqueles relacionados com dinheiro. O motivo de preocupação financeira mais citado, com 19% das respostas, foi o receio de que o salário acabe antes do fim do mês. Na sequência, com 17% das respostas, a existência de dívidas. Em terceiro lugar, com 10% das respostas, o temor de que o salário não dê conta do sustento no longo prazo.
Há outros estudos apontando as dificuldades financeiras que atemorizam o grupo de renda mais baixa. São elas: impossibilidade de pagar o cartão de crédito, necessidade de diminuir os gastos imprescindíveis como os de alimentação, dívidas crescentes de cartão de crédito e oriundas de empréstimos, temor de sofrer um processo judicial de recuperação do crédito, temor de ser despejado por atrasar o pagamento do aluguel e insuficiência de dinheiro para cobrir as despesas necessárias.
Como as condições de saúde mental e física afetam o dia a dia das empresas, os empregadores podem ajudar seus colaboradores a identificar e combater os problemas financeiros. Os negócios bem-sucedidos nessa tarefa terão menos empregados sofrendo de estresse por causa das suas finanças. Menos estresse tende a provocar elevação do nível de engajamento nas atividades diárias, o que leva ao cenário desejado de maior produtividade e de melhores resultados para as empresas.
O estudo citado no primeiro parágrafo deste artigo sugere a criação do Financial Fitness Score, uma nota ou pontuação que mensura o grau de saúde financeira do empregado. Esse índice é baseado em dez perguntas de comportamento. As respostas levam a uma nota de um a cinco. Quanto maior essa nota, maior também o grau de bem-estar financeiro.
A nota um indica que o empregado não está no controle das suas finanças, já que o dinheiro acaba antes de encerrado o mês. O salário não é suficiente para cobrir as despesas. Como consequência, o empregado costuma recorrer a empréstimos caros como cheque especial e rotativo do cartão de crédito.
Já a nota cinco demonstra que o colaborador conquistou sua liberdade financeira e pode dizer com segurança que se encontra em uma situação de bem-estar financeiro. Suas finanças não representam uma preocupação, pois, além de o empregado ter reservas suficientes para cobrir despesas inesperadas, pode fazer planos de consumo de médio a longo prazo.
O índice permite, portanto, que o empregador crie condições para que a empresa tenha uma política de auxílio aos colaboradores a fim de empoderar cada um deles a evoluir sua nota de bem-estar financeiro. Essa lógica é válida para qualquer país do mundo, inclusive para o Brasil. Iniciativas dedicadas a tornar os funcionários saudáveis financeiramente são muito bem-vindas.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado