Birôs de crédito
Muitos consumidores identificam o trabalho dos birôs de crédito com a negativação. Os registros de inadimplência são, de fato, uma atribuição importante, mas a atuação das empresas do setor vai além. Os birôs oferecem, já há bastante tempo, serviços que vão da recuperação de crédito ao passando monitoramento da carteira. Na verdade, o portfólio de serviços dos birôs distribui-se por quatro grupos: análise de crédito de novos clientes; gestão de relacionamento; gestão de carteira e recuperação; prospecção de mercado e marketing. Nesse contexto de amplo portfólio, o desenvolvimento de produtos é contínuo, sempre com um olhar para a inovação, e outro para as necessidades dos clientes, sejam pessoas físicas ou jurídicas de qualquer porte e região do país.
De modo geral, as atividades dos birôs de proteção ao crédito são multifacetadas. A negativação, por exemplo, carrega benefícios para o credor, mas também para o tomador de crédito e para todo o mercado: diminui as chances de superendividamento do consumidor e sinaliza aos demais concedentes de crédito sobre o risco de a inadimplência de uma pessoa ou empresa. Mas o objetivo primeiro de quem negativa é receber a dívida que ficou para trás. Ao negativar, suas chances de sucesso aumentam. E tornam-se ainda maiores se houver uma boa gestão de recuperação de crédito.
Um estudo realizado por pesquisadores do Federal Reserve Bank of New York mostrou que, nos locais onde há mais restrições à recuperação de dívidas, a oferta de crédito tende a se retrair e a inadimplência tende a aumentar.
A recuperação de crédito é mais do que simplesmente fazer a cobrança de um débito específico. Significa reabilitar o consumidor para o mercado de crédito e para o consumo. É preciso considerar, porém, que essa atividade está longe de ser trivial: da mesma forma que outras atividades, ela está sujeita a regras e exige habilidades de negociação. Uma abordagem incisiva pode romper de vez o relacionamento com um cliente que atrasou o pagamento para cobrir um imprevisto, mas tem o anseio de pagar; por outro lado, o atraso na abordagem pode acomodar um cliente que leva a inadimplência como um hábito.
Ainda antes da abordagem, o primeiro desafio que se impõe aos credores de dívidas é, certamente, a localização de seus clientes. A localização é importante para que se efetue o contato. Sem ela, nem uma boa proposta de negociação nem a abordagem mais precisa terá sucesso. Assim sendo, foram criados marketplaces de renegociação em que a localização é fornecida pelo participante, o que facilita o processo e aumenta o índice de recuperação. Uma pesquisa do @Instituto GEOC mostrou que, em 2019, 75% utilizaram aplicativos de mensagem para realizar acordos de pagamento – um salto expressivo na comparação com 2018, quando o percentual foi de 45%.
Algumas empresas recorrem à completa terceirização da recuperação. Mas nem todos os negócios têm escala suficiente para terceirizar a tarefa. Entre a grande variedade de serviços oferecidos pelos birôs, as soluções de recuperação de crédito buscam auxiliar as áreas responsáveis na adoção da abordagem mais precisa, otimizando os resultados e observando, ao mesmo tempo, os cuidados de relacionamento com o cliente. Essas soluções atendem empresas de todos os portes, contornando os problemas de escala.
Seria um equívoco considerar que a recuperação se limita a exaurir uma lista de telefones dos consumidores com contas em atraso. Hoje, a inteligência de dados aplicada à recuperação possibilita identificar onde há maiores chances de a abordagem ser bem-sucedida, permitindo melhor direcionamento dos esforços. Além do uso da inteligência de dados, as empresas podem associar a comunicação aos seus clientes com a credibilidade dos birôs de crédito, por meio de uma multiplicidade de canais, que inclui a tradicional carta por correio, mas recorre também aos meios digitais.
As soluções oferecidas pelos birôs reduzem os custos dos negócios com a recuperação de crédito – em outras palavras, aumentam a eficiência, permitindo que se faça mais com menos. Neste momento em que as empresas ainda sentem os efeitos econômicos da pandemia, a redução dos custos e o aumento da recuperação podem representar alívio decisivo no fluxo de caixa.
De acordo com dados do setor de birôs de crédito, o número de consumidores inadimplentes subiu 2,7% no primeiro semestre de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019. Já o número de dívidas por consumidor caiu 4,2%, como um reflexo das medidas de repactuação tomadas durante o período mais agudo da crise.
Recentemente, tratamos aqui do risco de um repique da inadimplência nos próximos meses, com o fim das medidas de estímulo e assistência. Isso torna ainda mais premente a necessidade de gestão da recuperação de crédito, que é importante a qualquer tempo.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado