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O tamanho do crédito

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O tamanho do crédito: revisitando a relação crédito-PIB no Brasil

Os dados mais recentes divulgados pelo Banco Central permitem fazer um balanço sobre o mercado de crédito em 2023. Os números confirmam a tendência observada em meses anteriores, de uma desaceleração no ritmo de crescimento do crédito. No segmento de pessoas físicas, o valor das operações em aberto feitas por meio do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu 10,1% no período, em base nominal. Mesmo com variação expressiva, cabe notar que o crescimento foi menor do que o observado em 2022 (17,7%).

Já o crescimento do volume de crédito emprestado às empresas foi de 4,5% em 2023 – ante um crescimento de 10% em 2022. Medido como proporção do PIB, o saldo total de crédito, incluindo PF e PJ, ficou praticamente estagnado, sendo estimado em 53,2%. Isso significa que, em termos reais, o crédito cresceu no mesmo ritmo que a economia. Essa relação fornece uma medida da presença do crédito nas atividades econômicas do país.

Ao longo das últimas duas décadas, a relação crédito-PIB praticamente dobrou no Brasil. O avanço foi interrompido pela forte recessão de 2014-2016 e só foi retomado durante a pandemia, com o impulso dos programas de estímulo ao crédito e como reflexo da forte queda do PIB.

As comparações internacionais utilizam um indicador mais amplo, divulgado pelo Banco Mundial e que considera no cômputo do crédito operações de financiamento por meio do mercado de capitais. O dado mais recente é de 2022 e mostra que a relação entre o crédito doméstico ao setor privado e a produção interna chegou a 71,8% no Brasil. Esse percentual fica abaixo do observado nos países de renda média, que apresentam uma relação crédito-PIB de 131,6%. Nos Estados Unidos, a relação chegou a 216% em 2022.

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Fontes: Banco Central do Brasil e Banco Mundial

A comparação, sobretudo com os países de renda média, mostra que há espaço para o avanço do crédito no Brasil, tanto via mercado bancário quanto por meio do mercado de capitais. Paralelamente à estabilização da relação crédito-PIB nos anos mais recentes – após o crescimento expressivo observado no início da pandemia –, é importante notar que esses anos se destacaram pelo avanço na agenda de modernização do mercado de crédito.

Conforme já destacamos neste espaço, há incentivos para o aumento da concorrência no setor bancário, ganhos de eficiência no uso de garantia, a criação de infraestruturas de compartilhamento de dados e a ampliação do escopo das informações de crédito, o que favorece a visibilidade de consumidores e empresas diante do Sistema Financeiro Nacional. Os efeitos dessas medidas necessitam de um tempo de maturação. A longo prazo, a expectativa é de um impacto positivo sobre as concessões de crédito.

No balanço final da inadimplência em 2023, os dados do setor de birôs de crédito mostram que o número de negativados no país começou a recuar, depois de um período de alta, em que a porcentagem da população adulta negativada chegou a ultrapassar 44%. Após um período de crescimento do endividamento, também se observa uma queda lenta nos dados do Banco Central que medem o total de dívidas das famílias com o Sistema Financeiro Nacional como proporção da renda.

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Fonte: Setor de birôs de crédito

Em termos conjunturais, o ano começa com a perspectiva de alívio nas condições de endividamento das famílias, o que permitirá ao crédito seguir avançando nesse segmento. Esse alívio guarda relação com a recuperação do mercado de trabalho e, consequentemente, da renda real, que voltou a superar os patamares anteriores à pandemia.

Mais importante que o alívio conjuntural é o avanço da disciplina do crédito. Aos poucos, os consumidores têm tomado consciência de que os dados são um ativo importante na hora de contratar recursos e que o bom histórico de crédito ajuda na obtenção de condições mais justas. Entre o curto e o longo prazo, o setor de birôs seguirá monitorando as condições de crédito e contribuindo para a higidez do sistema financeiro.

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elias sfeir

 

Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado

 

 

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