O crédito para a indústria: em busca da competitividade
O crédito empresarial cumpre o importante papel de viabilizar o capital de giro necessário para operação dos negócios e os investimentos produtivos, que se convertem, com o tempo, em maior produção de bens e serviços e produtividade. Os diversos setores produtivos que compõem a economia recorrem ao crédito. Já tratamos neste espaço sobre as especificidades do crédito ao setor agrícola. Neste artigo, trataremos da importância do crédito ao setor industrial.
A atividade industrial também tem características particulares, que a distinguem das demais atividades econômicas. Em geral, as atividades industriais demandam investimentos iniciais mais elevados em meios produtivo. Além disso, nesse setor, os investimentos têm um prazo de maturação maior, o que traz implicações importantes para o prazo médio das operações de crédito.
Historicamente, há duas fontes principais de recursos para o financiamento do setor industrial:
1) o mercado de capitais: as empresas captam recursos de diversos investidores, através de ativos e títulos de dívidas;
2) e o mercado de crédito : os recursos são ofertados na forma de empréstimos e financiamentos.
De acordo com dados do Banco Central do Brasil, no mercado de crédito bancário, a indústria aparece com um percentual de 38% do saldo total de recursos destinado a pessoas jurídicas. Em termos monetários, isso equivale a uma soma de R$ 855 bilhões. O setor industrial aparece atrás apenas do setor de Serviços, para o qual o Sistema Financeiro Nacional (SFN) destina R$ 1,3 trilhão – ou o equivalente a 57% do saldo de crédito empresarial.
Além da ampliação das unidades de produção e da renovação do parque produtivo, os investimentos da indústria têm um componente cujos benefícios vão muito além muito do setor: a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que cerca de 67% do investimento empresarial em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) vem do setor industrial. Esses investimentos são cruciais para a inovação tecnológica, ampliação do conhecimento científico e, consequentemente, para os ganhos de produtividade e competitividade.
No país, há diversas linhas de crédito direcionadas[AG3] para o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, voltadas para empresas de todos os portes e para o setor industrial. Essas linhas são operadas Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e por agências regionais de fomento.
Recentemente, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços lançou o programa Nova Indústria Brasil (NIB), com as diretrizes da nova política industrial. Um dos pilares desse programa é o financiamento da chamada “neoindustrialização”, através do Plano Mais Produção. O Plano envolve linhas de crédito, recursos não reembolsáveis e novos produtos do mercado de capitais para alavancar a produção industrial em quatro eixos – Inovação, Verde, Exportação e Produtividade –, mobilizando cerca de R$ 300 bilhões entre 2023 e 2026.
Os eixos são meritórios, sobretudo os que se referem à produtividade e à pauta ambiental. É preciso ter em vista, no entanto, que o sentido econômico desses incentivos só se concretiza com a geração das externalidades positivas esperadas com esses investimentos. Daí a necessidade de acompanhamento e avaliação de impacto do programa.
O Mapa Estratégico da Indústria 2023-2033, da CNI, estabeleceu a meta de elevar a participação do crédito industrial no PIB para 17% até 2032, partindo de um patamar de 8,0% em 2022. O documento também estabelece como meta elevar o crédito não-financeiro, ampliando a participação do valor das debêntures de 2,7% do PIB em 2022 para 5,4% em 2032.
Existe, de fato, espaço para a expansão do crédito no Brasil. A sustentabilidade financeira dessa expansão requer mais conhecimento sobre os instrumentos de crédito por parte do tomador, aprimoramento dos sistemas de garantias e das informações de crédito e do processo de recuperação de dívidas, compondo aquilo que o setor dos birôs de crédito tem chamado de disciplina do crédito. Promover a inclusão e, ao mesmo tempo, a disciplina do crédito tem sido uma bandeira dos birôs de crédito. Afinal, é o crédito disciplinado que garante que esse instrumento exerça suas potencialidades para a economia.
Nos últimos anos, houve avanços na visibilidade para crédito de pessoas físicas e de pessoas, graças à modernização do Cadastro Positivo. A inclusão abrange empresas de todos os setores, entre eles a indústria. E é mais significativa para empresas de pequeno porte, onde se constata um “gap” maior no acesso ao crédito. Em um mundo cada vez mais interconectado, a competitividade produtiva se impõe. Nesse mundo, o crédito disciplinado será um instrumento para que a indústria brasileira exerça sua vocação, tornando-se cada vez mais inovadora, competitiva e inserida nos mercados globais.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado