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O crédito na adversidade

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O crédito na adversidade: comparando as últimas crises

Nas duas últimas décadas, a economia brasileira atravessou três grandes crises. A primeira foi em 2008, quando o sistema financeiro global esteve à beira do colapso. Na ocasião, o PIB brasileiro desacelerou de 5,1%, em 2008, para -0,1%, em 2009, segundo o IBGE. A segunda crise deu os primeiros sinais em 2014, refletindo o esgotamento de um ciclo de crescimento. Como resultado, no biênio 2015-2016, a economia acumulou uma queda de quase 7%.

Ainda estamos atravessando a terceira crise. Diferentemente dos momentos anteriores, desta vez, as engrenagens da economia pararam em resposta a um problema sanitário, originado fora do sistema econômico. Por ser uma crise de natureza diferente, as respostas puderam ser diferentes e, até certo ponto, mais ousadas. Países de todo o mundo mobilizaram – e ainda mobilizam – um arsenal de medidas para conter os prejuízos.

Uma nota recentemente publicada pela Secretaria de Política Econômica (SEP) aponta algumas particularidades do momento atual. Destaco, entre elas, o comportamento do mercado de crédito.

O início da crise financeira de 2008 provocou uma queda da liquidez global e, por consequência, reduziu as linhas de crédito internacionais oferecidas ao país, como mostra um relatório do Banco Central divulgado à época. Esse foi um dos canais de contaminação da crise externa. Diante desse quadro, a autoridade monetária atuou para garantir a liquidez no mercado de crédito doméstico.

O resultado foi que, em 2009, depois de um breve período de estagnação das operações de crédito, as medidas surtiram efeito e os empréstimos e financiamentos reagiram. O crescimento maior foi no segmento de crédito a pessoas físicas, com avanço de 12,1% em termos reais. Naquele mesmo ano, o saldo de crédito a pessoas jurídicas avançou 8,8%.

Já em 2016, o saldo de crédito recuou de maneira dramática, sobretudo no segmento de empresas (-15%). O crédito a consumidores também caiu, só que num ritmo menor (-3%). Na crise iniciada em 2020, esse quadro se inverteu: houve crescimento expressivo do crédito a empresas (16,6%, em termos reais) e um crescimento menor do crédito a consumidores (6,4%), num ritmo inclusive maior do que o inicialmente previsto.

Em 2020, a pronta iniciativa da autoridade monetária, do governo e das instituições privadas foi fundamental para manter o canal do crédito aberto. Essa iniciativa sustentou-se na avaliação de que a crise, por sua natureza, seria passageira e de que a omissão diante do problema de liquidez traria um custo econômico maior. Segundo o Banco Central, as medidas de liberação de liquidez chegaram a quase 18% do PIB.

Apurados desde o início da década, os dados de inadimplência bancária permitem a comparação entre o biênio 2015-2016 e 2020. Os números mostram um lento crescimento dos atrasos a partir 2015 e uma queda expressiva ao longo da crise atual. Os dados sobre o total de negativados no país, medidos pelos birôs de crédito, indicam, com efeito, que a inadimplência segue abaixo dos níveis observados no início de 2020, mas com crescimento na margem.

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inadimplência merecerá especial atenção ao longo de 2021 pois esse é um problema que se manifesta com defasagem. Os birôs de crédito continuam a monitorar a evolução desses dados e, mais do que isso, a reduzir o risco dos concedentes de crédito ao disponibilizar essas informações para quem queira consultar a sua situação e para a fundamental análise de crédito.

Em suma, as particularidades do momento ensejaram a adoção de medidas igualmente particulares. Apesar da dimensão trágica da pandemia, as lições de política econômica e medicinais que resultarem dessa experiência deverão ficar na nossa memória, de modo que tenhamos, cada vez mais, melhores instrumentos para combater as adversidades.

Obrigado pela leitura! Acesse outros conteúdos na página da ANBC.

 

elias sfeir

 

Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado

 

 

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