Os países experimentam diferentes fases do contágio do novo coronavírus e lançam mão de diferentes medidas para controlar a propagação da doença. Ninguém ainda pode oferecer uma resposta pronta e definitiva, se é que existe, de como lidar com esse mal. Estamos todos aprendendo. Na frente econômica, as medidas também são variadas. Queda de juros, reforço do financiamento e da liquidez, programas sociais e de socorro às empresas fazem parte do amplo arsenal para mitigar o impacto recessivo. Nos Estados Unidos, a taxa de juros foi a praticamente zero. Ainda como parte dos estímulos monetários, o FED anunciou um programa de compra de ativos com a promessa de injetar 700 bilhões de dólares no mercado. Na Europa, havia pouco espaço para a queda dos juros, o que foi compensado com mais injeção de liquidez e estímulos fiscais.
O pacote de estímulos da Alemanha, país reconhecido pelo rigoroso controle das contas públicas, foi chamado de histórico. Com razão. Entre a criação de um fundo de estabilidade econômica, gastos com equipamentos de saúde, financiamento de pesquisa para a vacina e transferência para as famílias, o volume de recursos soma algo como 1 trilhão de euros.
Até março de 2020, o Brasil seguia outra agenda. O país tentava conter um quadro de déficit fiscal persistente, que já vinha desde 2014. Com o início da pandemia, o gasto se impôs. Como proporção do PIB, a resposta fiscal do Brasil à pandemia supera a de países como México, Rússia e Argentina, segundo os dados do Monitor Fiscal do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Por aqui, também merece destaque o amplo leque de iniciativas voltadas para o crédito, algo de extrema importância no momento. Através do Programa Emergencial de Acesso ao Crédito, o governo federal injetou 20 bilhões de reais no Fundo Garantidor de Investimentos. Nos bancos públicos, foram criadas linhas de crédito com condições especiais.
Para garantir a estabilidade do sistema financeiro, o Banco Central reduziu o depósito compulsório e autorizou a concessão de crédito a bancos, tomando títulos privados como garantia. Visando o reforço da liquidez, as medidas têm um potencial de chegar a mais de 1,2 trilhão de reais. Ainda na alçada da autoridade monetária, foram anunciadas medidas de liberação de capital aos bancos que poderão ter um impacto de 1,3 trilhão de reais no crédito.
Se comparado a outros países emergentes, o Brasil sai na frente, com medidas de suporte ao sistema bancário que chegam a 20% do PIB. Por parte das empresas, os dados do Banco Central mostram que há, com efeito, forte demanda por crédito. O volume de concessões teve crescimento expressivo depois da crise, com especial destaque para o capital de giro.
A realização da travessia exigirá fôlego – também podemos chamar de caixa – das empresas. O adiamento de tributos colabora para compensar a queda do faturamento. Já a flexibilização trabalhista tem sido um instrumento importante para preservação de empregos num momento em que as restrições de funcionamento reduziram as atividades.
Igualmente importante foi a liberação do auxílio emergencial, destinado a trabalhadores informais, microempresários individuais e autônomos que tiveram a renda comprometida pelo isolamento. Estima-se que o auxílio tenha alcançado mais de 65 milhões de beneficiários. A medida, que foi estendida por mais dois meses, atenua o impacto social da crise e, pelo seu efeito multiplicador, pode ter um efeito positivo sobre a atividade econômico.
O ineditismo do momento, que certamente ficará para a história, justifica a grandeza das medidas. As projeções apontam para uma queda da economia brasileira entre 5 e 7%. Se as previsões mais pessimistas se confirmarem, será uma retração maior que a acumulada no biênio 2015-2016. Na parte fiscal, estima-se que dívida brasileira poderá alcançar 100% do PIB num horizonte curto dependendo dos programas emergenciais. Chegará também o momento de endereçar esse problema. Mas, antes disso, é preciso realizar a travessia.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado