“Better Business” foi um dos assuntos propostos e mais debatidos na edição deste ano do Fórum Econômico Mundial realizado na cidade suíça de Davos. Essa definição sobre “negócios melhores” expande a avaliação além do grau de competitividade de uma empresa no mercado, seu desempenho financeiro. É preciso que os resultados de negócio sejam gerados em um contexto de responsabilidade social, ambiental e com governança. As empresas devem, portanto, ter relação construtiva com o meio ambiente e as vidas de todos aqueles envolvidos direta e indiretamente com o negócio.
Para demonstrar a importância desse assunto, o Fórum, que comemora neste ano seu quinquagésimo aniversário, elaborou um manifesto, o Manifesto de Davos, que pode ser acessado aqui. São princípios que têm como objetivo ressignificar o capitalismo na era da Quarta Revolução Industrial. O que se pretende é deixar claro que o comportamento das empresas e dos países (dos seus respectivos governantes) tem enorme influência sobre a vida das pessoas.
A pergunta central é: qual capitalismo queremos? Na visão do Fórum Econômico Mundial, dois tipos devem ser evitados. O chamado “capitalismo do acionista”, cujo fundamento é maximizar o lucro para ele, independentemente de como. E o “capitalismo de Estado”, que se baseia em uma presença hegemônica do governo na direção da economia, modelo esse utilizado pela China, seu maior expoente, assim como por alguns países emergentes.
Na visão do Fórum, deve promover uma terceira via, que já está sendo adotada. Trata-se do “capitalismo do stakeholder”. Nesse modelo, promovido pelo Manifesto de Davos, é uma ação que participam o governo, as empresas e a sociedade civil. As empresas que estão harmonicamente inseridas na sociedade, elas pagam tributos justos, demonstram tolerância zero à corrupção, têm apreço pelos direitos humanos em suas operações, assim como nas operações dos fornecedores, e atuam por um ambiente de negócios competitivo – em que todos competem em em igualdade de condições.
Nessa realidade, as desigualdades econômicas – as diferenças de renda entre ricos e pobres – são menores. De acordo com estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) mencionado por uma das participantes do Fórum, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, o aumento da desigualdade foi a causa que antecedeu todas as crises financeiras. No momento, infelizmente, é esse o cenário, com desigualdade alarmante em muitas áreas do mundo. Além disso, como escrevi neste artigo, a economia global está sob pressão, com tensões comerciais entre os países e instabilidade geopolítica.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, pediu que os riscos climáticos façam parte das análises econômicas realizadas pelo mercado. “Não pensamos mais nos riscos de 30 anos, mas em tempos muito mais curtos. Precisamos da cooperação de todos, até as agências de classificação devem participar desse processo”, disse. O que Christine deseja é que as empresas sejam analisadas de acordo com o método de avaliação ESG sobre o qual escrevi recentemente.
Em Davos, ainda em relação a essa nova forma de avaliação dos negócios, as conversas foram no sentido da necessidade de elaboração de uma métrica que mensure a “criação de valor para o stakeholder”, ou seja, o grau de confiabilidade de uma empresa. Aparentemente, três critérios estarão entre os adotados: a empresa ser ética, ouvir os clientes e ser boa para seus colaboradores.
Como o Brasil se enquadra nesse novo capitalismo?
As políticas voltadas para o meio ambiente são relevantes para atrair ou afugentar investimentos. Ainda que o otimismo tenha dominado o Fórum Econômico Mundial em relação à economia brasileira, os participantes reconheceram que o meio ambiente é fator de preocupação internacional.
Nossa floresta Amazônica pode ser uma oportunidade se o governo priorizar sua conservação. Ou pode afugentar o investimento estrangeiro caso a política e ação ambiental por parte dos nossos governantes prejudiquem o meio ambiente. No novo capitalismo, a forma de lidar com o meio ambiente é um dos critérios utilizados para avaliação de viabilidade do investimento – tanto para as empresas como para os países.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado