A avaliação dos negócios tem evoluído e está se tornando mais abrangente. Tradicionalmente, são considerados aspectos estritamente financeiros como faturamento, lucro e participação mercadológica. Em um novo processo, de visão mais holística, começa a ser incorporada a ESG, sigla que reúne as iniciais das palavras em inglês “environment” (meio ambiente), “social” (social) e “governance” (governança).
São esses os três aspectos que já estão sendo considerados pelos investidores no momento de decidir se determinada empresa oferece condições atrativas para receber, por exemplo, um aporte de capital. Pesquisa recente da State Street Global Advisors, que está entre as maiores administradoras de ativos do mundo, indica que a ESG já faz parte da estratégia de investimento de 80% dos investidores institucionais. Nos últimos dois anos, o método de avaliação baseado na ESG cresceu 34%, alcançando 30 trilhões de dólares em ativos.
No ano passado, a agência de classificação de risco Moody´s identificou 11 setores, com uma dívida combinada de 2,2 trilhões de dólares, com possibilidade de perda de grau de investimento por causa do alto volume de emissão de carbono. Empresa do setor de energia, teve sua nota de crédito reavaliada para negativa por causa, entre outros fatores, da ESG, que, nas palavras da Moody´s, representa um “risco emergente” para a companhia.
A tendência é que essa mesma forma de avaliação seja adotada pelas instituições que concedem crédito. A lógica é simples: quanto melhor o desempenho de uma determinada empresa nesses três campos, mais provável é a obtenção por ela de bons resultados de negócio e de sustentabilidade, o que significa que a instituição financeira corre menos risco no processo de crédito.
Entenda abaixo cada um desses pilares e perceba os motivos de sua relevância.
1) Meio ambiente
Esse critério de avaliação considera como a empresa utiliza os recursos. O uso deve ser inteligente no emprego ou na aplicação dos recursos a fim de poupar energia elétrica, assim como água, bem como diminuir ao máximo qualquer tipo de poluição, encontrando inclusive formas de compensar o impacto gerado no meio ambiente.
A empresa também é analisada em relação aos riscos que sua atividade representa para o meio ambiente e, ainda mais importante, como está administrando esses riscos. Uma mineradora, por exemplo, deve, além de ter consciência dos riscos de sua atividade, estar atenta ou vigilante em relação a possíveis desastres. Deve haver ainda plano de emergência bem traçado e que possa ser acionado com agilidade.
2) Social
O universo coberto por esse critério é extenso, já que leva em conta as relações com os diversos atores envolvidos com a empresa. Como exemplos, podemos citar o respeito às leis, o que inclui o gerenciamento ético das relações de trabalho, a segurança do produto oferecido aos clientes, a preocupação com as informações das pessoas (proteção dos dados pessoais) e o relacionamento com a comunidade em que a empresa está inserida. Nesse processo, os fornecedores também são importantes. A empresa deve assegurar que eles tenham os mesmos valores defendidos por ela.
3) Governança
Em relação à governança, o aspecto mais importante diz respeito à forma de administração do negócio, que deve empregar métodos transparentes e precisos de mensuração e divulgação dos resultados financeiros. A gestão deve ser profissional, com a manutenção de estruturas fiscalizatórias, cuja idoneidade precisa ser assegurada por um programa de compliance. Esses cuidados fazem com que a companhia esteja protegida em relação a conflitos de interesses na escolha dos membros do conselho, bem como atos de corrupção praticados internamente e externamente.
Todos esses três critérios, além de possibilitarem maior segurança para quem oferece crédito, permitem um ambiente de negócios mais justo, responsável e sustentável. No Brasil, que está em momento de recuperação da economia, a busca por crédito vem crescendo. No mês de setembro, o desempenho da demanda por crédito das empresas registrou a maior alta em 11 anos, de acordo com o setor de birôs de crédito. Como exposto no artigo, as empresas que utilizam crédito em suas operações de negócios, ao atender às exigências da ESG, alcançam uma vantagem competitiva.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado