Novas formas de comprar, novas formas de pagar: o avanço da tecnologia da informação vem mudando as transações do dia a dia. Nem é preciso voltar muito no tempo para perceber o alcance das transformações. Basta lembrar que o PIX passou a ser utilizado pelo público apenas em novembro de 2020 e hoje é principal o meio para a transferência de recursos.
No processo de adaptação às novas tecnologias, surgiram também novos tipos de fraudes. A sofisticação e a diversidade das práticas fraudulentas apresentam-se como um desafio global e exigem uma atuação coordenada entre órgãos reguladores, instituições financeiras e empresas de inteligência.
Na discussão sobre a atualização da regulação sobre meios de pagamentos na Europa, através do chamado Payment Services Directive (PSD3), o combate às fraudes ganhou destaque. Um tipo específico chamou a atenção do regulador: a engenharia social, em que as vítimas são manipuladas e, voluntariamente, concedem aquilo que o fraudador pede.
Um passo importante no combate à fraude bancária foi dado com a Resolução Conjunta nº 06, que regulamentou o compartilhamento de informações sobre indícios de fraudes entre as instituições financeiras reguladas pelo Banco Central. O entendimento que norteou a Resolução é o de que a cooperação torna o combate às fraudes mais efetivo, protegendo o sistema financeiro como um todo. Esse tipo de fraude impõe perdas às vítimas e geram recursos para o financiamento de outras atividades criminosas, o que torna a coibição ainda mais premente.
Além das fraudes bancárias, outro tipo recorrente envolve o e-commerce. Ao longo dos últimos anos, observou-se um crescimento expressivo das compras pela internet. Essa mudança de comportamento, motivada pela comodidade e pela maior facilidade de comparar preços oferecidas pela internet, levou ao surgimento de novas modalidades de golpes, que vão desde a criação de sites falsos associados a marcas conhecidas à captura de dados de cartão de crédito para a realização de compras.
O setor dos birôs de crédito tem se debruçado sobre o fenômeno das fraudes através de levantamentos periódicos na busca de soluções que protejam consumidores e empresas. De acordo com dados apurados pelo setor, a taxa de tentativas de fraudes no e-commerce brasileiro foi estimada em 4,09% em 2023. O resultado ficou abaixo do apurado em 2022, quando chegou a 5,77%. Essa queda pode ser creditada à atuação conjunta de diversos setores no esclarecimento da população sobre as abordagens suspeitas.[AG1]
Para além das nossas fronteiras, outro levantamento feito em 18 países mostrou que 54% dos entrevistados relataram ter sido alvo de tentativas de fraude por e-mail, telefone ou mensagem de texto entre setembro e dezembro de 2023. Com relação às fraudes mais típicas, uma pesquisa de abrangência nacional mostrou que as recorrentes mencionadas pelos consumidores foram a clonagem do cartão de crédito, compras online através de sites falsos, e transações bancárias sem autorização.
Diante da realidade das fraudes, o investimento das empresas para garantir a segurança das transações online é algo valorizado pelos consumidores. Uma sondagem conduzida pelo setor mostrou que o quesito “segurança” é considerado “muito importante” para 66% dos consumidores, à frente do quesito “privacidade” e até mesmo da “conveniência”, que inclui o que se convencionou chamar de “experiência do cliente”. E mais: 62% dos consumidores mostraram disposição para pagar mais caro em uma marca que ofereça menor chance de ser vítima de fraude. Do lado das empresas, a sondagem mostrou 68% das pessoas jurídicas sondadas afirmaram que a preocupação com as fraudes aumentou nos últimos 12 meses.
As soluções do setor dos birôs voltadas para o combate às fraudes são variadas, com produtos que atendem consumidores e empresas. Os serviços incluem o monitoramento de CPF e CNPJ, com notificações de alterações cadastrais e consultas, verificação cadastral em consonância com a política de KYC (“Know Your Costumer”), soluções de autenticação, com o uso de biometria facial, e scores de fraude. A tecnologia também já permite avaliar se dispositivo utilizado em alguma operação tem atributos que podem ser considerados de risco. Essa avaliação pode ser feita sem acrescentar maiores fricções à experiência do cliente.
O uso de tecnologia é um aliado no combate às fraudes. A aplicação da inteligência artificial auxilia na identificação de padrões relacionados a essas operações. Uma vez identificado o padrão, a empresa pode atuar a fim de evitar prejuízos aos negócios, inclusive em termos de reputação. Nas fraudes em que há menor aplicação tecnologia, em que a vítima, ao ser ludibriada, transfere voluntariamente recursos e dados ao fraudador, as campanhas de conscientização exercem um papel fundamental.
O ritmo acelerado da vida faz com que o consumidor demande celeridade nas transferências e pagamentos. Essa demanda é legítima, mas, quando se trata da vida financeira, a segurança irá requerer algum tipo de fricção nas transações, mas menores do que as transações presenciais. A digitalização da vida financeira é um caminho sem volta e a combinação de cooperação, educação e tecnologia podem tornar o processo de adaptação mais seguro.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado