Os primeiros bancos de dados de inadimplência surgiram na década de 50 e tinham atuação local, que se limitava a pequeno grupo de lojas do centro da cidade de São Paulo e seus consumidores. Com o avanço da mobilidade e da integração regional, esses bancos de dados nacionalizaram-se, viabilizados pelo desenvolvimento tecnológico e pela digitalização.
Peças fundamentais do mercado de crédito brasileiro, os bancos de dados administrados pelos birôs de crédito democratizam o acesso à informação, alcançando os lugares mais remotos do país com instrumentos de análise de crédito e risco para pequenos comerciantes, redes varejistas e instituições financeiras regionais. Isso possibilita a concessão de crédito mais segura e, portanto, mais sustentável.
Além de informações que facilitam a concessão de crédito, o atendimento dos birôs envolve a prevenção a fraude, a promoção de eventos locais de renegociação de dívidas, o que permite ao consumidor inadimplente sanear sua vida financeira e voltar a ter acesso ao consumo.
No mercado de crédito, historicamente, consumidores e empresas dos centros urbanos tiveram mais acesso a empréstimos, financiamentos e serviços financeiros de maneira geral. Uma publicação recente do Banco Central sugere, no entanto, que há um processo de desconcentração geográfica do crédito no país.
Segundo o estudo, nos últimos dez anos, houve redução da concentração geográfica do crédito a pessoas físicas, acompanhando a queda da concentração geográfica do emprego formal. O mesmo fenômeno se observou no crédito destinado a microempresas. Isso significa que o crédito está igualmente disponível a consumidores e empresas próximos e afastados dos grandes centros urbanos. A notável capilaridade dos birôs de crédito contribui para esse movimento de democratização do acesso ao crédito.
Ao longo da pandemia, o avanço das concessões de crédito foi bastante divulgado. Em geral, os números apresentados referem-se ao país como um todo. Considerando o saldo de crédito total por região, isto é, o saldo de todos os empréstimos e financiamentos realizados pelo sistema financeiro, constata-se que o crédito avançou com força de Norte a Sul.
Na comparação entre julho de 2021 e do ano anterior, as cinco regiões do país apresentaram crescimento de dois dígitos no saldo de crédito. Em algumas regiões, o crédito avançou mais do que em outras, mas o fato é que todas exibiram crescimento expressivo. De acordo com dados do Banco Central, a região Norte se destacou, com crescimento nominal de 26% da carteira total de crédito. O menor crescimento ficou com a região Sudeste, embora o avanço ainda tenha sido de 15% em termos nominais.
As particularidades econômicas de cada região modificam o perfil do crédito concedido. Ainda de acordo com a autoridade monetária, considerando o segundo trimestre do ano, o crédito imobiliário foi destaque nas regiões Sul e Sudeste. O empréstimo consignado foi o que mais avançou nas regiões Norte e Nordeste, enquanto, no Centro-Oeste, os financiamentos rurais mostraram a variação mais expressiva, refletindo a importância do agronegócio da região.
A digitalização dos serviços financeiros, com intermediação cada vez menor de agências físicas, e a oferta capilar de informações de crédito que tornam o sistema financeiro mais seguro continuarão a estimular a desconcentração do crédito e o crescimento econômico. Um fator mais recente que também contribui para a expansão do crédito local são as Empresas Simples de Crédito, que possibilitam a pessoas físicas emprestar recursos a pequenos negócios do próprio município ou de cidades vizinhas.
Observadas as diferenças entre as economias locais, confirma-se que o crédito favorece o desenvolvimento das potencialidades econômicas de cada região, criando oportunidades para as populações e contribuindo para a redução de desigualdades regionais e sociais.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado