Ao longo do ano, utilizamos este espaço para discutir temas do mercado de crédito. Procuramos olhar para o quadro atual e para as principais tendências, baseados no entendimento de que um ambiente regulatório e legal adequado pode impulsionar o crescimento econômico.
Na análise sobre o crédito, refletindo sobre os aspectos culturais, destacamos a importância dos parcelamentos no contexto brasileiro. Isso nos levou a pensar sobre o uso do tradicional crediário. Nas camadas da sociedade com maior acesso a produtos e serviços bancários, o crédito próprio vem caindo em desuso, mas ainda exerce um papel importante em comunidades locais e na vida dos “desbancarizados”.
Falamos também da relevância e da dimensão do crédito bancário, utilizando a métrica do saldo de empréstimos e financiamentos como proporção do PIB. Segundo dados do Banco Central de outubro de 2021, essa relação estava em 53,2%, bem acima do patamar observado há duas décadas, e ainda abaixo do que se observa em outros países.
A oferta de crédito abaixo do potencial abre um gargalo no provimento de recursos a micro e pequenas empresas. Esse foi outro tema presente no diagnóstico do mercado de crédito, e que tem merecido destaque em várias partes do mundo. O acesso a recursos para investimento e giro é fundamental para que essas empresas cresçam, inovem, aumentem sua produtividade e gerem empregos.
A discussão contemplou ainda o custo do crédito. Há muito tempo se discute as razões do elevado spread bancário no país. Entre os caminhos apontados para a redução do custo do crédito, destacamos a estabilidade macroeconômica, a segurança jurídica, o aprimoramento dos sistemas de avaliação de crédito, já em curso com o Cadastro Positivo, e o fortalecimento dos mecanismos de garantias do crédito.
Abordamos também o papel do crédito regional como um motor do desenvolvimento econômico local, e das cooperativas de crédito como um vetor concorrencial e de fornecimento de crédito nos locais menos atendidos pelos bancos tradicionais.
O quadro ficaria incompleto sem falar das transformações induzidas pelo avanço tecnológico em finanças. A crescente digitalização atua como outro vetor concorrencial. Mais do que nunca, existe uma infinidade de soluções na palma da mão: podemos comprar, vender, pagar e comparar preços em apenas alguns toques. E isso é só o começo.
A digitalização, aliada ao interesse e à disseminação da educação financeira, coloca-nos diante de um novo momento para o mercado de crédito. Equipado com as ferramentas de ponta da tecnologia da informação, o setor de birôs realiza esforços e investimentos para agregar cada vez mais valor aos processos de análise de crédito e recuperação de dívidas, tornando-os mais eficazes.
Em 2021, registramos neste espaço algumas conquistas. Foi assim com a divulgação dos primeiros estudos de impacto do Cadastro Positivo. De acordo com estudo do Banco Central, consumidores com histórico de informações positivas puderam contratar crédito pagando um spread menor do que o grupo dos demais consumidores, confirmando as expectativas dos birôs de crédito.
Outro momento digno de destaque foi a inclusão de informações de pagamento de serviços de telecomunicações no banco de dados do Cadastro Positivo. Essa segunda onda de informações lança luz sobre consumidores que, à margem do sistema bancário, dispõem de limitado histórico de crédito. Cabe relembrar ainda a aprovação do PL do Superendividamento, para o qual o setor contribuiu ativamente.
Destacamos, por fim, a relação entre o crédito e o bem-estar da sociedade, mostrando como esse instrumento pode melhorar a vida das pessoas ao possibilitar a transferência de renda ao longo do tempo. Além disso, chamamos a atenção para o uso consciente do crédito, de modo a evitar desequilíbrios nas contas pessoais.
Em 2022, seguiremos pautando o tema do crédito e esperamos que a saudável troca de ideias continue neste espaço e em outros diversos formatos como lives, nos eventos presenciais, na mídia especializada e onde mais houver interesse.
Sem dúvida, o crédito é um instrumento essencial para recuperação econômica da crise para a construção de um futuro próspero.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado