Fonte: revista ANFAC | Por Elias Sfeir, presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC).
É inegável a importância do crédito para o desenvolvimento econômico e para a promoção do bem-estar social. E vem avançando internamente nos últimos anos devido ao aperfeiçoamento da agenda microeconômica, que tem aprimorado o segmento e inovado os serviços financeiros, somado a dois fatores relevantes e de enorme potencial transformacional: emprego da tecnologia e mudança de comportamento.
Para compreender como a inovação tem ocorrido no mercado de crédito é importante salientar que no centro e como facilitador da relação entre credores e tomadores de crédito estão os birôs, exercendo uma atividade essencial. O segmento, inicialmente conhecido pela entrega de produtos com uso da base de negativados, se transformou.
Com a maior disponibilidade de dados relativos a crédito e a evolução dos sistemas de informação, aliada aos avanços regulatórios, os birôs passaram a criar modelos cada vez mais sofisticados de previsão do comportamento de crédito.
A partir de 2019, com a chegada do Cadastro Positivo com a entrada automática de pessoas e empresas, os dados de adimplência trouxeram uma camada a mais de informação aos birôs gestores dos bancos de dados, abrindo espaço para a criação de um histórico do comportamento de pagamentos, capaz de proporcionar condições mais justas na contratação de crédito. Atualmente, segundo dados do setor, em torno de 150 milhões de pessoas físicas e jurídicas já fazem parte do banco de dados do Cadastro Positivo e podem ser beneficiadas por essa medida. Além do Cadastro Positivo, outras bases de dados, como o SCR, vem proporcionando a evolução do setor.
Toda essa transformação no volume de dados demandou do setor de birôs investimentos em ferramentas de Analytics, agregando modelagem estatística, capacidade computacional e conhecimento de negócios. Desta forma, dados são constantemente transformados em insumos para melhor processo de tomada de decisão e análise de risco em crédito.
Esse é apenas um exemplo recente de como o setor, ao longo de sua história, foi incorporando a fronteira tecnológica à sua operação, sempre com o objetivo de reduzir a assimetria de informação e, ao mesmo tempo, de ajudar consumidores e empresas a praticar o controle financeiro, estimulando o consumo consciente e o crédito sustentável.
Toda transformação no setor de birôs ocorreu simultaneamente à transformação da sociedade e sua forma de lidar com a tecnologia. Paralelamente, outros fatores impulsionaram as inovações do mercado de crédito e, consequentemente, do setor de birôs. O primeiro exemplo e, para mim, o mais relevante é a atuação do Banco Central com foco na evolução tecnológica do sistema financeiro para estimular a inclusão, a competitividade, a sustentabilidade e a transparência. Assim, foram lançadas no mercado inovações de alto impacto, alterando as formas como pagamos, recebemos, investimos e transferimos recursos financeiros.
O PIX, sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central do Brasil, bate sucessivos recordes desde que entrou em funcionamento, em novembro de 2020. Além das transferências e pagamentos já usuais, o PIX Garantido, previsto pelo Banco Central, irá possibilitar também o pagamento agendado e parcelado, funcionando como uma modalidade de crédito, sendo uma alternativa aos tradicionais cartões.
Podemos destacar ainda as plataformas de empréstimos “peer-to-peer”, que permitem a pessoas físicas emprestar recursos, pela internet, a pequenos negócios, capitalizando o crédito. E, seguindo uma tendência do varejo, o surgimento do “marketplace” de crédito também favorece o tomador de crédito por estimular a competição no sistema financeiro e possibilitar que os consumidores tomem decisões mais conscientes, graças à comparação entre diferentes ofertas.
Paralelamente, o Open Banking que, por meio do consentimento do cliente, possibilita o compartilhamento de informações entre instituições financeiras, a Duplicata Eletrônica, criada para tornar mais eficiente a oferta de crédito por meio da antecipação de recebíveis, e o avanço do Real Digital asseguram que a digitalização, que limita os custos das transações e incentiva a concorrência, seguirá fomentando soluções inovadoras para todo o ecossistema financeiro e de crédito.
Outra tecnologia que vem avançando é a inteligência artificial que, no setor de birôs de crédito, já aponta benefícios como maior precisão nos produtos, inclusão financeira e aumento de eficiência no processo de concessão de crédito.
Isso porque a inovação é o vetor que tem quebrado as barreiras à entrada e permitido o surgimento de novos players no mercado de crédito e de serviços financeiros.
Em um contexto de crescente importância da pauta ambiental e dos novos critérios de análise que, tanto no mercado de crédito como no mercado de capitais, vêm norteando o direcionamento dos recursos, as transformações tecnológicas e de comportamento seguirão impulsionando positivamente o mercado de crédito.
Com todas essas inovações, espera-se que os benefícios alcancem credores e tomadores de crédito à medida que trazem aumento da competição e fomentam um processo continuado de educação financeira.
Diante dos avanços tecnológicos, temos os desafios para colocar esses serviços no mercado, como a disponibilidade de internet, acesso a smartphones e a educação digital no uso dos dispositivos, afinal temos gerações de pessoas com diferentes graus de educação digital.
Atentos e atuantes diante deste cenário, os birôs de crédito seguem avançando no sentido da transparência nas relações entre credor e tomador, estimulando, assim, as relações de crédito saudáveis, conscientes e sustentáveis.