Com desemprego no menor nível da série histórica, Brasil avança na inclusão financeira e tem o desafio de reduzir o número de negativados
A taxa de desemprego no Brasil atingiu 5,8% no trimestre compreendido entre abril e junho de 2025, de acordo com o último levantamento do IBGE. A combinação entre o menor índice de desocupação já registrado na série histórica e o avanço da formalização, com a informalidade alcançando seu mais baixo patamar, de 37,8%, tem criado condições favoráveis para a concessão de crédito. Por outro lado, os índices de inadimplência seguem elevados, o que sinaliza a necessidade de atenção ao comportamento financeiro da população.
Para Elias Sfeir, presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), a recuperação do emprego impulsiona a oferta de recursos, movimento que já é observado desde o período pós-pandemia. “Os resultados mais recentes apenas confirmam que o mercado de trabalho permanece aquecido. Isso favorece a oferta de crédito, mas esse processo já ocorre há algum tempo. A expectativa é de que a concessão siga crescendo ao longo de 2025, e a um ritmo menor do que o observado nos anos anteriores.”, destaca Sfeir
O crescimento do emprego formal eleva a capacidade de comprovação de renda, um dos elementos essenciais para uma análise mais precisa e segura. Ainda assim, esse aumento na oferta de crédito mantém a inadimplência em patamar elevado, devido a fatores como a inflação persistente, juros altos e o crescente endividamento das famílias.
Importante destacar que, mesmo com a melhora no emprego e na renda, a inadimplência permanece em níveis elevados. Em junho, 77,8 milhões de brasileiros estavam negativados, com dívida média individual de R$ 6.128,26, de acordo com dados do setor de birôs de crédito. Essa aparente contradição pode ser explicada por fatores econômicos e comportamentais que vão além da simples relação emprego-desemprego.
“A inadimplência tem um componente conjuntural e depende de variáveis como renda, emprego, inflação e endividamento, além de fatores comportamentais. É necessário observar que o aumento da taxa básica de juros, atualmente em 15% ao ano, encareceu o crédito para consumidores e empresas, impactando diretamente a capacidade de pagamento dos consumidores, mesmo aqueles que estão no mercado de trabalho”, explica o executivo.
Outro fator que ajuda a explicar o aumento do endividamento, de acordo com Elias Sfeir, é a entrada de novos consumidores no sistema financeiro, já que muitos brasileiros tiveram acesso ao crédito pela primeira vez e ainda precisam desenvolver experiência para utilizá-lo de forma responsável. “O cenário deixa claro que a inclusão financeira só se concretiza quando o acesso ao crédito vem acompanhado de educação para o seu uso consciente. A expansão do crédito, impulsionada pela queda do desemprego e por outros fatores, sem o preparo adequado dos consumidores, tende a resultar em maior endividamento, risco que se intensifica no atual contexto de juros elevados”, conclui o presidente da ANBC.
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