Crédito em alta, apesar dos juros: as primeiras projeções para 2025
No último artigo, fizemos um balanço de 2024. Destacamos o desempenho positivo da atividade econômica e a persistência da pressão inflacionária, que levou a mudanças na trajetória da taxa básica de juros. Tratamos ainda do ciclo de crescimento do crédito no Brasil, sobretudo no segmento de crédito a pessoas físicas. Agora é o momento de traçar as perspectivas para 2025. O exercício de projetar o futuro, embora seja inerentemente limitado pela incerteza, é importante porque ajuda a direcionar o nosso olhar para os riscos e as oportunidades que estão pela frente.
Começamos o ano sabendo, por exemplo, que a evolução do cenário externo merecerá uma atenção especial. Há incertezas sobre o ritmo de desinflação nas principais economias do mundo, o que poderia levar a um aumento nas taxas de juros externas. Isso traria pressões adicionais sobre a cotação do dólar, com repercussão sobre a inflação e sobre a política de juros no Brasil. No caso de uma desaceleração mais acentuada da inflação, as pressões externas seriam amenizadas. Como pontuou o Banco Central na ata da última reunião do COPOM, o quadro externo exige cautela de países emergentes.
No cenário internacional temos ainda outros pontos de atenção: a política tarifária a ser adotada pelos Estados Unidos será uma crucial para a inflação naquele país e todas as repercussões internacionais que uma eventual aceleração dos preços poderia trazer Quanto aos Estados Unidos, por ora, conhecemos apenas as intenções manifestadas na campanha eleitoral. Será preciso, portanto, aguardar a apresentação de um plano mais concreto. Além disso, os conflitos em andamento também podem impactar a trajetória da economia global. Os impactos desses conflitos se manifestam na dimensão econômica através incertezas na cadeia de fornecimento e insegurança interna e social dos países, afetando negativamente os mercados de capital e crédito. Outro ponto relevante são os fenômenos climáticos em que a nível mundial teve custo econômico de USD 320 bilhões em 2024 com um aumento de cerca de 30% em relação a 2023. O Brasil também foi afetado por secas e enchentes.
No quadro interno, 2025 herda alguns desafios de 2024. A maior urgência é o resgate da credibilidade da política fiscal. O Congresso aprovou o pacote fiscal apresentado pelo governo com algumas alterações que desidrataram a proposta original. Desse modo, a pauta fiscal ainda merecerá atenção, sobretudo quando pensamos no médio prazo. A avaliação de importantes agências de risco é de que o pacote fiscal precisa ser complementado com medidas adicionais de cortes. O resgate da credibilidade fiscal seria um forte aliado do Banco Central na tarefa de ancorar as expectativas de inflação. No melhor dos cenários, a “reancoragem” poderia levar a um ciclo menor de alta dos juros.
As projeções apresentadas pelo Boletim Focus deixam evidente a “desancoragem” da inflação. No início de dezembro de 2024, a previsão do mercado para a variação do IPCA em 2025 era de 4,6%. No primeiro boletim divulgado neste ano, a previsão é de 5,0%, o que colocaria o índice acima do teto da meta estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Por consequência, as projeções para a taxa SELIC também cresceram: de acordo com o Boletim Focus, a taxa básica deverá chegar a 15,0% ao fim de 2025.
Para a atividade econômica, as projeções indicam uma desaceleração do crescimento. Desacelerar significa, nesse caso, crescer menos do que o país cresceu em 2023. . A previsão de crescimento global do PIB em 2025 é de 2,6% e dos emergentes de 3,9%. Já o avanço projetado para o PIB brasileiro é de 2,0%, de acordo com o Boletim Focus. Cabe ponderar que, ao longo dos últimos anos, a atividade econômica surpreendeu de maneira consistente. Sim, isso pode parecer uma contradição em termos. O fato é que, desde o início da recuperação da pandemia, observou-se um crescimento do PIB acima do que as primeiras projeções apontavam. No caso de a desaceleração ser confirmada, haveria um freio na queda do desemprego e no crescimento da renda média.
A conjuntura menos favorável pode ter implicações sobre a evolução da inadimplência e do crédito. Nos últimos ano, observamos um ciclo de crescimento do crédito, sobretudo no segmento de crédito a pessoas físicas. Foi esse ciclo que levou a relação crédito-PIB a 54,0% em novembro de 2024 – o maior patamar desde início da série histórica apresentada pelo Banco Central. Como já apontamos neste espaço, as razões para o crescimento do crédito vão além da conjuntura e refletem um conjunto de medidas que buscam modernizar o mercado de crédito brasileiro, reduzindo as assimetrias de informação e estimulando a concorrência.
Por essas mesmas razões, apesar da alta esperada dos juros, projeções coletadas pela FEBRABAN apontam para um crescimento de 9,0% no saldo de crédito. Embora seja um crescimento menor do que o projetado para 2024, vale notar que o ritmo de avanço permanece expressivo.
O setor dos birôs de crédito reitera a sua missão de contribuir com a ampliação do acesso aos recursos do sistema financeiro, de modo que as empresas possam investir e os consumidores tenham o crédito como uma opção viável e mais barata, sempre fomentando, é claro, a disciplina do crédito. Nos próximos meses, o setor seguirá monitorando o ambiente de crédito e contribuindo com a modernização desse mercado. Esperamos que em 2025 o país possa dar novos passos na direção da democratização do crédito.
Obrigado pela leitura! Acesse outros conteúdos na página da ANBC.