Crédito Agro: Impulsionando a Produtividade e Garantindo a Sustentabilidade Ambiental
Nos últimos anos, assistimos à ocorrência de eventos climáticos extremos no Brasil e no mundo. A crise climática já é uma realidade e demanda esforços do setor público e privado. O sistema financeiro tem um papel importante na prevenção de danos, sendo responsável por eleger os projetos empresariais a serem financiados – conforme legislações ambientais e sustentabilidade.
Esses critérios estão cada vez mais presentes na avaliação de risco, tanto no mercado de crédito quanto no mercado de capitais. Isso interessa aos investidores e instituições financeiras porque, ao descumprir as normas ambientais, além de impor impacto na sociedade, o produtor incorre em risco regulatório. A oferta de crédito para as atividades do campo segue mais sensível a esses critérios.
O setor agropecuário tem uma importância indiscutível para a economia brasileira. O Brasil é o quarto maior produtor global de grãos e líder na produção de café, açúcar e laranja. Também é o maior exportador de carne bovina e frango. Gerador de renda e divisas, é também um modelo de ganhos de produtividade ao longo dos últimos anos. De acordo com dados do IBGE, a agropecuária representa algo em torno de 5,6% do PIB. Considerando o agronegócio como um todo, que compreende atividades industriais e de serviços voltadas para o campo, chega-se a 23,2% do PIB, de acordo com o indicador elaborado pela ESALQ. Esse resultado foi alcançando mesmo com as dificuldades impostas pela estiagem que afetou o setor agrícola em 2024.
No comércio externo, o valor das exportações do agronegócio chegou a US$ 152,63 bilhões em 2024, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária. O valor equivale a 48,9% do total exportado, tendo a soja como carro chefe. Olhando adiante, 2025 promete ser um ano de recuperação para o setor. As projeções do IBGE indicam um crescimento de 12,2% para a safra de grãos no país, depois de uma queda de 7,2% em 2024.
Sustentar os bons números do agronegócio exige recursos. O financiamento da produção agropecuária mobiliza esforços de entes públicos e privados. A participação ativa dos entes públicos tem como objetivo possibilitar ao campo o acesso a condições de crédito mais vantajosas, inclusive por meio de subsídios, dada a importância do setor para a economia e o desempenho do setor externo.
Um dos instrumentos da política agrícola brasileira é o Plano Safra, criado em 2002. Publicado anualmente, o Plano destina recursos para o crédito rural empresarial por meio de linhas de crédito e subsídios. No Plano Safra 2024/25, o volume de recursos chegou a R$ 400,59 bilhões, com aumento de 10% na comparação com o Plano anterior. Do total de recursos, R$ 189 bilhões foram disponibilizados com taxas controladas e R$ 211,5 – mais da metade do total – foram disponibilizados com taxas livremente pactuadas entre as instituições financeiras e os tomadores.
No âmbito do Plano Safra vigente, a responsabilidade ambiental também ganhou peso. Produtores rurais com o Cadastro Ambiental Rural atualizado e que adotam práticas sustentáveis puderam pleitear redução de cerca 1 ponto percentual na taxa de juros para custeio da produção.
O agronegócio brasileiro demanda muito crédito, com destaque para o Plano Safra 24/25 que prevê R$ 400 bilhões (~40%) e o restante vindo do mercado de capitais, mercado bancário, indústrias e capital próprio (60%).
De tal forma que o mercado já aguarda a publicação do Plano Safra 2025/26. Ao longo das últimas semanas, o governo recebeu propostas de entidades representativas do agro. Há desafios a serem considerados, como a questão fiscal, que limita o espaço para subsídios, ao mesmo tempo em que a elevação da taxa básica de juros pressiona o custo do crédito.
Cabe, por fim, ressaltar a análise econômico-financeira tradicional, que permanece importante para a obtenção de crédito, sobretudo se os recursos a taxas controladas se tornarem mais escassos.
Os desafios incluem o descasamento temporal entre ciclo de produção, pagamento, e a necessidade de confiança na entrega futura. As oportunidades no mercado de capitais para o agronegócio cresceram significativamente, com títulos privados atingindo R$ 1,256 trilhão em fevereiro de 2025.
Nesse cenário, instrumentos como o Cadastro Positivo podem fazer a diferença, possibilitando condições de juros mais favoráveis com base no histórico de pagamentos. Isso vale tanto mais para os pequenos produtores com pouco acesso ao sistema financeiro, já que o CP reúne informações de outros setores, ampliando a visibilidade para crédito.
Os recursos para o campo são fundamentais para que o país colha bons frutos econômicos e, mais do que isso, são um instrumento de incentivo a boas práticas ambientais, contribuindo para o enfrentamento do desafio climático.
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