Ao longo dos últimos dez anos, a economia brasileira sofreu dois grandes choques: um interno, entre 2014 e 2016, e outro externo, com o início da pandemia em 2020. Esses choques afetaram a confiança e renda dos consumidores, duas variáveis cruciais para o mercado de crédito. Passados esses choques, que avaliação podemos fazer do quadro do consumidor brasileiro?
Queda do desemprego, avanço da renda
Dados divulgados recentemente pelo IBGE mostram que a taxa de desemprego no país recuou para 5,8% no 2º trimestre de 2025, alcançando o menor patamar da série histórica iniciada em 2012. Depois de alcançar um pico de 14,9% em março de 2021, a taxa de desemprego passou a recuar no país. Refletindo a demanda por trabalho, a renda média real cresce. No 2º trimestre de 2025, o IBGE estimou a renda média em R$ 3.477, com crescimento de 3,3% na comparação com o mesmo período de 2024, já descontando a inflação. Emprego e renda são dois preditores importantes do consumo e, consequentemente, da utilização de crédito. Mas essa relação é mediada por outras variáveis, como a confiança e o endividamento.
Confiança ainda abalada
Mesmo com o avanço da renda, o Indicador de Confiança do Consumidor, apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a percepção da maior parte dos consumidores sobre a economia ainda é majoritariamente negativa. Esse indicador varia de zero a 200 pontos. Pela metodologia, valores acima de 100 pontos indicam prevalência do otimismo; valores abaixo desse nível indicam a prevalência do pessimismo. A análise da série histórica mostra que, ao longo dos últimos anos, o indicador permaneceu abaixo dos 100 pontos. Na medição de junho de 2025, a confiança dos consumidores atingiu 85,9 pontos. O patamar atual é consideravelmente maior do que o registrado na pandemia, mas segue longe de apontar um quadro de otimismo. A confiança é um dos determinantes da busca por crédito.

Inflação persistente e puxada por itens de alimentação
Dados do IBGE mostram que o índice oficial de inflação (IPCA) acumula alta de 5,2% nos 12 meses encerrados em julho de 2025. Desde o segundo semestre de 2023, a inflação oscila em torno de 5,0%, em um patamar que supera o teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O detalhamento dos dados por itens de bens e serviços revela que, nos últimos meses, o grupo de “Alimentação e bebidas” lidera a alta de preços no país. A persistência inflacionária, sobretudo por afetar itens tão básicos, é um dos fatores que ajudam a explicar o baixo nível da confiança.
Inadimplência em alta
O Banco Central mede o comprometimento da renda das famílias com dívidas feitas por meio do Sistema Financeiro Nacional. Os dados mais recentes apontam um crescimento do comprometimento da renda no país. Em maio de 2025, o endividamento das famílias chegou a 49,0%, ante 47,6% em maio de 2024. Endividamento e inadimplência são conceitos diferentes, mas ambos avançam no país. De acordo com dados do setor dos birôs de crédito, o percentual de negativados no país chegou a 47,8% em junho de 2025, ante 44,9% no mesmo mês do ano anterior.

A evolução do crédito depende das várias mudanças estruturais que vêm ocorrendo nesse mercado. dos dados conjunturais do país. Depois da recessão da década passada, o crédito voltou a crescer no país e ainda cresce a taxas elevadas, principalmente no segmento de pessoas físicas. Mesmo durante a pandemia o crescimento do crédito manteve-se expressivo. Diante desse crescimento, o desafio é manter a sustentabilidade evitando o avanço da inadimplência. O crédito cresce com o aumento de renda atrelado a confiança dos consumidor. Nos próximos anos, a disciplina do crédito será fundamental para que a economia avance e traga bem-estar social ao país.
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