Tenho tido o privilégio de participar virtualmente de fóruns internacionais sobre ESG, Finanças Sustentáveis, Nova Economia, Proteção Climática e outros temas correlacionados.
A minha leitura, a respeito de ESG, é que os Estados Unidos e Europa têm mais foco no E, Ásia no E+S e a América Latina no S.
Nesta semana, foi anunciado o resultado da entrada das operadoras de telecomunicações no Cadastro Positivo, o que possibilitou a inclusão financeira de 11,1M de pessoas físicas e jurídicas. O fato me fez refletir sobre o porquê de, na América Latina, se enfatizar o S do ESG.
Os frameworks refletem a realidade do hemisfério Norte. E quanto à Nova Economia, também denominada Economia de Stakeholder, fica a pergunta: como é que ficam os NoHolders? NoHolders são os excluídos, que ainda não chegaram a Stakeholders.
Dado o nível de desigualdade e de excluídos dos benefícios da plena cidadania na América Latina, trago à discussão a necessidade de endereçarmos além do Stakeholder e atentarmos aos NoHolders, para que possamos extrair todos os benefícios econômicos e sociais da Nova Economia.
Peguei o exemplo do crédito, usando o Cadastro Positivo no Brasil, que hoje já impacta positivamente o acesso a recursos financeiros pelos não visíveis ao crédito. Mas lembro que temos outras necessidades sociais, como Saúde e Segurança.
Na experiência do Crédito no Brasil, só foi obtido sucesso por meio do alinhamento entre legislação, agências reguladoras, associações, birôs de crédito e consciência do setor privado do benefício socioeconômico aos clientes e comunidades em que operam. Os birôs democratizaram e evoluíram a análise de crédito, incluindo todos os agentes de crédito, assim como abriram espaço para a educação financeira de consumidores e empresas.
Os motores dessa iniciativa foram a tecnologia da informação e a disponibilidade de informações relevantes ao propósito de avaliação de crédito dos setores que são fonte de informação.
Uma reflexão sobre esse modelo de sucesso leva a algumas conclusões com relação a mover os NoHolders para a condição de Stakeholders, mostrando que podemos realizar outros movimentos semelhantes:
- Participação ativa e alinhada de Governo, Setor Privado e Sociedade é fundamental para o sucesso;
- Conscientização do Setor Privado de que a participação nesse tipo de iniciativa é boa para a imagem da empresa, tem impacto positivo nos resultados da empresa (no exemplo do CP, o crédito acelera a economia, reduz a inadimplência, gera empregos, distribui renda que promove uma sociedade mais equilibrada);
- Instrumento de democratização dessa inclusão é necessário para a capilarização dos benefícios para toda a sociedade;
- Governo com sua regulação alinhada ao mercado traz segurança jurídica e proporciona mais bem-estar social, o que diminui o custo do Estado em programas assistenciais e proporciona sustentabilidade;
- A Sociedade se beneficia por trazer os NoHolders aos serviços de direito da cidadania, proporcionando oportunidade de evolução educacional e econômica e induzindo à participação ativa nos debates de iniciativas para aprimorar a equidade social;
- Esse movimento reforça o tecido socioeconômico da sociedade, trazendo resiliência a adversidades e oportunidade de capturar os benefícios da Nova Economia.
Esses argumentos mostram que, na América Latina, além de proporcionar benefícios aos Stakeholders, é urgente o movimento de inclusão dos NoHolder para maximização dos resultados da Nova Economia.
NoHolders
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado