Nos últimos anos, a inclusão financeira ganhou a atenção de entidades internacionais, órgãos reguladores e governos ao redor do mundo. No Brasil, muito se falou em inclusão financeira com o advento das aberturas de contas relacionadas aos programas emergenciais. Nas discussões sobre o tema, a bancarização aparece em destaque. Por muitos, a conta bancária é tomada como sinônimo de inclusão financeira e acesso ao crédito, porém essas questões, embora relacionadas, referem-se a situações diferentes.
“Bancarização” é o nome que se dá ao acesso aos serviços de uma conta de banco ou instituição de pagamento. Há diversas estimativas sobre o número de “bancarizados” no Brasil e no mundo. A base de dados mais ampla é o Global Findex, apurado pelo Banco Mundial, com dados até 2021. De acordo com esses números, o percentual de “bancarizados” no mundo chegou a 76% enquanto no Brasil chegou a 54%. Essa proporção considera apenas a população com idade superior a 15 anos.
A abertura da conta é a porta de entrada aos serviços bancários como transferências, recebimento de salários (no caso de pessoas físicas), depósitos, poupança, pagamento de contas, entre outros essenciais para que um indivíduo ou empresa desenvolva suas relações econômicas, já para o acesso ao crédito, é outra história. As operações de crédito são serviços financeiros mais complexos e que envolvem algumas etapas antes de sua aprovação.
O relacionamento bancário por meio de uma conta pode ser um ponto de partida na busca por crédito, mas requer mais do que isso. Dados do Banco Mundial evidenciam que, mesmo com o avanço da bancarização, existe uma demanda por crédito atendida por vias informais: segundo o levantamento, pouco mais da metade da população mundial tomou dinheiro emprestado (53%), sendo que 29% utilizaram instituições financeiras formais e 27% buscaram recursos de amigos e familiares, isto é, fora do sistema financeiro.
A chave para obtenção de recursos por meio das instituições constituídas para essa finalidade está na visibilidade para crédito. Esse é o conceito que tem guiado o desenvolvimento de soluções como o Cadastro Positivo e outras bases de dados. Ser visível para crédito significa usufruir da geração de informações que possam ser identificadas e lidas pela análise de crédito, mesmo por indivíduos ou empresas sem relacionamento bancário prévio. Há poucos anos, a visibilidade para crédito confundia-se com o próprio relacionamento bancário. Isso mudou.
As atividades econômicas, contas de serviços continuados como telefonia, eletricidade, saneamento e gás, por exemplo, contêm informações importantes sobre a elegibilidade ao crédito, mediante a análise do histórico de pagamentos. Elas dão visibilidade para o crédito. É importante esclarecer que a visibilidade para crédito tampouco garante a aprovação de um empréstimo ou financiamento, e sim fornece uma informação mais adequada sobre os critérios do processo de análise de crédito. O potencial tomador é visível para crédito? Se sim, qual é a avaliação do seu histórico? Aqui entra a análise dos dados visíveis.
Outro esclarecimento importante é que a decisão da instituição financeira nem sempre será binária. Entre conceder e deixar de conceder, a instituição pode conceder mais ou menos crédito a condições diferentes para cada tomador, considerando seu histórico. Aqui, o conceito de maior e menor juros deve ser trocado por condições mais justas de crédito. Um mercado de crédito eficiente e sustentável deverá garantir que o resultado seja justo, refletindo a melhor avaliação sobre o risco da operação para cada perfil de tomador garantindo que esse tomador tenha condições de honrar os compromisso prevenindo o superendividamento.
O Banco Central define a inclusão financeira como um estado em que todos os adultos têm acesso efetivo a crédito, poupança, pagamentos, seguros, previdência e investimentos. Em suma, a bancarização é um dos pilares da inclusão, que somente se concretiza com uma utilização mais ampla do que a possibilitada pelos serviços mais básicos de uma conta corrente. A visibilidade para crédito é um instrumento capaz de estreitar o relacionamento entre os consumidores, empresas e as instituições formais, levando, aí sim, à plena inclusão. Dados do setor de birôs de crédito demonstram que a utilização de informações dos clientes de serviços de telecomunicações incluiu cerca de 14 milhões de pessoas físicas e jurídicas no banco de dados do Cadastro Positivo. Esse foi um grande passo na direção da inclusão.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado