Imagine analisar um período superior a 5.500 anos. Um olhar para os acontecimentos relevantes ao longo de cinco milênios e meio. Foi justamente esse exercício que a ANBC (Associação Nacional dos Bureaus de Crédito) se propôs a fazer em relação a historia do crédito .
Fomos aos primórdios do crédito, época anterior ao nascimento de Cristo, como ponto de partida do levantamento. Afinal de contas, para tudo existe um início, e o começo do crédito ocorreu na sociedade suméria em 3.500 a.C., tendo sido posteriormente utilizado pelos babilônios, fenícios e romanos.
A civilização suméria localizava-se na região da Mesopotâmia, que equivale hoje à área onde se encontra o Iraque. Sua estrutura econômica dependia dos rios, e a agricultura, é claro, era sua principal atividade. Naquela época, o crédito tinha o propósito de fomentar a atividade agrícola. Na Idade Média, um revés momentâneo para o crédito, já que a prática de cobrar juros, chamada de usura, era tida como imoral e a riqueza mundial ficou estagnada. Felizmente, o crédito voltou a florescer na época das Grandes Navegações, de 1.500 a 1.600, ocasião em que permitiu o descobrimento e posterior desenvolvimento de terras distantes da Europa. Foi, portanto, o impulsionador da expansão dos mapas, que até então estavam reduzidos a apenas algumas regiões do mundo.
Essa evolução toda ao longo da história só foi possível com a formação de uma estrutura que possibilitasse regras claras e aplicáveis para todos. Com o desenvolvimento do comércio internacional e a exigência de documentos para pagamento de bens e serviços, os países perceberam a necessidade de adotar medidas extraterritoriais que fossem válidas a todos.
Em 1930, na Suíça, com a presença de 31 países, incluindo o Brasil, a Convenção de Genebra unificou universalmente as leis cambiais. Isso significou, entre outros avanços, que passou a existir uma lei uniforme sobre letras de câmbio e notas promissórias. Mesmo assim, somente em 1942, o Brasil aderiu às decisões da Convenção.
Ainda referente ao Brasil, nos anos 1960, o crédito teve papel imprescindível para o desenvolvimento da indústria de veículos em geral, eletrodomésticos, móveis e outros bens de consumo duráveis. Foi igualmente decisivo para o crescimento das fábricas de tecidos, calçados, confecções e outros bens de consumo semiduráveis. Ou seja, financiou nosso período de industrialização.
Ao longo dos anos, como forma de tornar transparente a relação entre credor e devedor e prezar pelo desenvolvimento saudável do mercado de crédito, os birôs foram surgindo. Em 1955, o Serviço de Proteção ao Crédito, atual SPC Brasil, foi criado por uma iniciativa de empresários gaúchos. No mesmo ano, o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), atual Boa Vista SCPC, também iniciou suas atividades. Treze anos depois, a Serasa foi criada por iniciativa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Em 2007, o grupo irlandês Experian comprou seu controle, motivo pelo qual passou a se chamar Serasa Experian. Mais recentemente, no ano passado, a Quod foi formada, uma fintech de crédito controlada pelos cinco maiores bancos que atuam no país.
Com o passar dos anos, essa função central do crédito de possibilitar que as sociedades se desenvolvam sempre se manteve. Só que ele passou a impulsionar atividades mais urbanas do que rurais, algo natural, já que os países se urbanizaram, ainda que a agropecuária, especialmente em países que dependam dela como o Brasil, continue sendo um dos principais demandantes de empréstimos e financiamentos.
Fica evidente também que o volume de crédito cresceu consideravelmente. Nos Estados Unidos, por exemplo, a relação crédito versus PIB é de 150%, enquanto, no Brasil, ela é de 47,7%. No Chile, economia parecida com a nossa, está próxima de 90%. E esse volume deve evoluir nas próximas décadas, ascensão essa que deve ser maior para os países em desenvolvimento como o Brasil. Com a aprovação recente do novo Cadastro Positivo, nossa expectativa é que haja aumento na concessão de crédito de aproximadamente 20% do PIB a médio prazo, o que vai possibilitar o acesso de número maior de consumidores e empresas a empréstimos e financiamentos.
O que o futuro nos reserva? Vou contar em breve no meu próximo artigo. O que posso adiantar é que as tecnologias já estão sendo empregadas atualmente na concessão de crédito, e isso é ótimo para todos os envolvidos nesse processo.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado