A indústria do crédito vem evoluindo, principalmente nos anos mais recentes. O desenvolvimento da tecnologia da informação está tornando o processo de avaliação de risco mais preciso. O uso crescente da tecnologia reduz a assimetria de informações, um dos problemas do mercado de crédito. Nesse cenário de ascensão tecnológica, os dados relevantes são imprescindíveis. Somente com a tecnologia sendo empregada na coleta e no armazenamento desses dados, conseguiremos diminuir a diferença de acesso à informação existente entre credor e devedor, os dois principais agentes de uma relação de crédito. Por dados relevantes, devemos entender como as informações financeiras que podem circular legalmente entre os agentes de crédito. Neste segundo e último artigo sobre o estudo “O crédito e seu papel socioeconômico no Brasil”, destaco o crédito no presente e no futuro.
Hoje em dia, aqui no Brasil, a maior parcela dos dados financeiros está concentrada quase exclusivamente em bancos e agências de crédito. A tendência é que esses dados fiquem em breve sob controle dos consumidores. E por qual razão isso é importante? Porque os próprios consumidores poderão escolher se vão usá-los para obter vantagens para si mesmos, como acesso a serviços financeiros e a formas de pagamento em condições mais justas. Essa mudança também é positiva para o mercado, já que estimula a competitividade, na medida em que fortalece as fintechs, empresas que oferecem produtos e serviços financeiros, assim como cooperativas e varejistas. É nesse sentido que vai o open banking, iniciativa apoiada pelo Banco Central e que faz parte, assim como o Cadastro Positivo no modelo opt-out, da Agenda BC+.
Nesse contexto, as APIs (“Interfaces Programáveis de Aplicativos” na tradução para o português) são protagonistas. Esses sistemas de acesso digital voltados para a integração de softwares e serviços permitirão, no open banking, que uma imensa variedade de serviços financeiros possa ser criada. As plataformas dos bancos e das fintechs serão integradas com a premissa de que os dados financeiros pertencem às pessoas, de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que passará a vigorar em fevereiro de 2020.
O que já está certo é que essas mesmas pessoas, sejam elas físicas, sejam elas jurídicas, poderão utilizar suas informações de pagamento para obter acesso a crédito. Ou, caso já consigam acessar, contratá-lo a taxas de juros mais justas. Com a entrada em vigor do novo Cadastro Positivo a partir do dia 9 de julho, o mercado de crédito será beneficiado como um todo. O credor poderá realizar uma análise muito mais assertiva da capacidade de pagamento do tomador de crédito, já que terá acesso também às contas pagas, e não apenas às não pagas, como ocorre atualmente. Já o tomador, como escrevi, passará a usar seu histórico positivo de pagamentos a seu favor. São avanços legislativos como a alteração da lei do CP que permitem o desenvolvimento do mercado de crédito.
A tecnologia deve estar ainda mais presente no futuro, com a utilização das redes neurais ou dos sistemas de inteligência artificial. Esses recursos vão analisar um imenso conjunto de dados brutos e entender padrões, com o objetivo de aprimorar a avaliação de crédito. Já o blockchain e o reconhecimento facial serão usados para enfrentar as fraudes.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado