Fonte: https://digitalmoneyinforme.com.br/
A c tomou conta do cenário e do debate econômico global em 2021. Se por um lado houve a recuperação do tombo econômico de 2020 provocado pela pandemia de Covid-19 – calcada em políticas fiscais e monetárias expansionistas – por outro, a inflação ressurgiu com força, provocada principalmente pelos efeitos colaterais dessas mesmas medidas, salpicada por choques de oferta em determinadas cadeias produtivas, crise hídrica e aumento do custo de energia.
Mesmo diante de desequilíbrios econômicos relevantes, o crédito avançou em 2021, inclusive aqui no Brasil. Segundo dados do Banco Central do Brasil, a carteira de crédito consolidada do Sistema Financeiro Nacional avançou 16% em outubro de 21, comparada ao mesmo período do ano passado. Nessa mesma base de comparação, o crédito destinado às empresas subiu 11,4%, enquanto o destinado às famílias expandiu em 19,7%.
Algumas linhas de crédito apresentaram avanços expressivos. No caso das empresas, tiveram destaque o desconto de duplicatas e recebíveis (58,8%), a antecipação de faturas de cartão de crédito (45,8%) e a aquisição de veículos (47,7%). Já no crédito às famílias, os destaques foram os empréstimos pessoais (39,1%), o cartão de crédito (27,9%), o crédito rural (31,2%) e as operações de microcrédito (38,7%).
A expansão do crédito aconteceu apesar da ação do Banco Central ao iniciar um processo de elevações sequenciais da taxa básica de juros para combater a inflação. Como esse processo aconteceu de forma gradual, a partir de um patamar de taxa Selic historicamente baixo, e a inadimplência das empresas e consumidores se manteve relativamente controlada, quase não ocorreram empecilhos para que o crédito se expandisse em 2021.
A tendência, no entanto, é desse quadro se modificar em 2022, que já se inicia com uma taxa de juros bem mais elevada que a registrada no começo do ano passado. Além disso, esse nível mais alto deverá vigorar durante o próximo ano, a fim de estimular o processo de desinflação da economia brasileira.
Por último, e igualmente importante, a inadimplência, que se manteve bem comportada, deverá subir de patamar em 2022, impulsionada pelo estrago que a inflação vem causando na capacidade de pagamento da população. Tudo isso acompanhado das tradicionais incertezas trazidas pelas eleições presidenciais.
Portanto, não se espera que o crédito cresça acima de 10% em 2022, como tem acontecido ao longo dos últimos anos. Nossa expectativa é de uma expansão do crédito próxima a 7%, impulsionada principalmente pelas linhas mais curtas e sem garantias (cheque especial, empréstimos pessoais não consignados, rotativo e o parcelado do cartão de crédito, etc.).
As linhas mais longas ligadas a consumo, formação de patrimônio e investimentos ficarão mais contidas, seja pelo próprio impacto das taxas de juros e diminuição da confiança de empresas e consumidores, seja pelo baixo dinamismo esperado para a economia brasileira em 2022.
Neste contexto, cabe aos atores do mercado de crédito trabalharem nos ganhos de eficiência mais do que na expansão de volumes, incorporando uma série de inovações tecnológicas e institucionais, como a ampliação do Cadastro Positivo, Open Banking, Open Finance, Fintechs, Blockchain e entre outros, assim como preparando-se para um novo período de expansão do crédito.
Isso poderá se apresentar logo após a conclusão do processo eleitoral do ano que vem, caso o novo governo consiga sinalizar que irá manter os bons fundamentos da gestão macroeconômica, além de retomar e avançar na agenda de reformas que o país tanto necessita.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado