A cada dez brasileiros, três, no mínimo, estão endividados. As regiões brasileiras apresentam inadimplência mínima de 30%. De acordo com o Banco Mundial, em estudo realizado em 2015, apenas San Marino, Chipre e Grécia, nessa ordem, apresentavam porcentagem de endividamento mais elevada do que a brasileira. A Grécia naquele ano estava imersa em uma profunda crise econômica, que ainda assola o país.
As informações sobre o Brasil fazem parte do desdobramento do último estudo realizado pela ANBC (Associação Nacional dos Bureaus de Crédito), com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do setor de birôs de crédito. O objetivo foi aferir o impacto da inadimplência.
A região Sul possui 34% da sua população endividada. Dos 27 milhões de habitantes, 9 milhões encontram-se inadimplentes. No Sudeste, o cenário é praticamente o mesmo em termos de proporção de endividados. Dos 80 milhões de habitantes, 26,7 milhões estão com contas em aberto, o equivalente a 33% da população. Na sequência, Norte e Nordeste aparecem com a mesma porcentagem de endividamento: 31%. São 4,9 milhões de pessoas no Norte e 16,3 milhões no Nordeste. Por fim, mas também em situação ruim, vem o Centro-Oeste, que possui 4,7 milhões de inadimplentes em uma população de 16 milhões. Fazendo os cálculos, chegamos à porcentagem de 30%.
Na primeira parte da pesquisa, mostramos que quatro a cada dez brasileiros endividados são jovens. Em números absolutos, 25 milhões de pessoas. Isso significa que as gerações Z e Y (também chamada de millennials) já entram no mercado de consumo com alto grau de endividamento. Nesta segunda parte, o foco do trabalho foi demonstrar como a inadimplência se distribui entre as mais diferentes faixas etárias nas cinco regiões brasileiras.
Como característica em comum das regiões, o tíquete médio da dívida começa a crescer a partir da faixa etária entre 31 e 35 anos e segue nessa trajetória de alta até a faixa etária entre 51 e 60 anos. Há uma explicação para isso: as pessoas começam a construir suas famílias quando chegam aos 30 anos, o que aumenta os gastos mensais. De acordo com os dados mais recentes de registro civil divulgados pelo IBGE, dos 2,86 milhões de nascimentos registrados no Brasil em 2017, a mãe, na ocasião do parto, tinha 30 anos ou mais em 35,1% dos casos. Ainda segundo o IBGE, ao cruzar esses números com a diminuição gradativa da proporção de mulheres que tiveram filhos na faixa dos 20 anos ou menos, há uma tendência que indica para a maternidade cada vez mais tarde.
No estudo da ANBC, é possível também visualizar que há 8,8 milhões de idosos endividados em todo o Brasil, com um tíquete médio de R$ 4,6 mil. É tanta gente a ponto de fazer com que os idosos fiquem atrás apenas da faixa etária entre 41 e 50 anos. E tão ruim quanto: o tíquete médio só perde para as três faixas etárias compreendidas entre 36 e 60 anos, que são 36 a 40 anos, 41 a 50 anos e 51 a 60 anos. Um dos motivos que explicam essa situação é que a renda do idoso proveniente da aposentadoria representa muitas vezes o sustento de uma família inteira, incluindo filhos e netos. Nesse cenário de muitos dependentes, não é difícil que o idoso comprometa parte da aposentadoria na contratação de um empréstimo consignado. Ao não conseguir honrar essa obrigação, o idoso contrata empréstimos mais caros, como o cheque especial, o que resulta em uma dívida impagável e em um orçamento fora de controle.
Com a entrada em vigor do novo Cadastro Positivo a partir do dia 9 de julho, a expectativa é que haja uma melhora nesse cenário de inadimplência apontado pelo estudo da ANBC. A expectativa é de redução de até 45% no número de devedores. As novas regras permitirão que cada brasileiro seja avaliado de forma mais completa, diminuindo a burocracia das consultas e tornando mais simples a obtenção de crédito. O consumidor, com base na sua nota de crédito, poderá negociar melhores taxas de juros e condições de pagamento.
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Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado