Um dos assuntos mais abordados pela imprensa é spread bancário. Nos últimos meses, a taxa básica de juros da economia caiu para o menor patamar histórico. A Selic está hoje em 6,5%, mas as taxas cobradas pelas instituições financeiras nos empréstimos e financiamentos não foram reduzidas na mesma proporção. O questionamento ocorre porque o spread acompanha via de regra a taxa básica de juros. Essa, aliás, é uma das discussões que estão presentes na sociedade. Consumidores e empresários, especialmente micro e pequenos empresários, se perguntam por que o crédito não ficou mais barato.
Antes de compreender as variáveis que influenciam no spread bancário, vale a pena lembrar o significado desse termo. Trata-se da diferença entre o custo do dinheiro para o banco, ou seja, o quanto ele paga ao tomar empréstimo, e o quanto cobra do consumidor ao conceder crédito.
Em um cenário de Selic baixa como o atual, os bancos pagam menos pelos recursos que captam no mercado, uma vez que muitos investimentos pagam juros atrelados à Selic. Logo, se a Selic está em um patamar menor, há mais espaço para queda nas taxas cobradas na concessão de crédito.
De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), a explicação para o spread bancário ainda continuar alto está na sua composição. Há fatores que fazem parte do spread que não têm relação com a Selic, ou seja, com o custo de captação. Veja abaixo cada um dos fatores que impedem a queda do spread.
1) Inadimplência
A elevada inadimplência, que atinge neste momento mais de 60 milhões de brasileiros, faz com que os bancos tenham que lidar com um elevado risco ao conceder empréstimo. Como consequência, o spread bancário fica mais alto, já que as instituições financeiras embutem a previsão de perda com o não pagamento dos empréstimos concedidos. Dados de 2017 fornecidos pelo Banco Central indicam que a inadimplência representa 55,7% do spread bancário.
A aprovação do novo projeto de lei do Cadastro Positivo fará com que os bons pagadores não sejam penalizados pelo custo da inadimplência. Esse projeto de lei tem o potencial de reduzir a inadimplência em até 42% porque possibilita às instituições financeiras a realização de uma análise mais precisa da capacidade de pagamento do tomador de crédito, o que deve resultar em taxas de juros mais justas nos empréstimos e financiamentos. Traz também a democratização do credito no Brasil.
2) Tributação
Não apenas os impostos que incidem sobre os empréstimos como também o depósito compulsório tanto a prazo quanto à vista afetam o spread. O governo aumenta ou diminui o compulsório de acordo com seu desejo de retirar ou de injetar dinheiro na economia brasileira.
3) Dificuldade de recuperação do crédito
A recuperação do crédito na Justiça é cara e difícil. Em média, o banco aguarda cerca de quatro anos para recuperar o crédito concedido. Em outros países, essa espera é menor do que dois anos. E tem mais: as instituições financeiras recuperam as garantias em apenas 16% dos créditos concedidos com garantia – a média é de 59% em outros países.
4) Despesas administrativas
O valor gasto com a manutenção das agências, que estão localizadas em diversos municípios brasileiros, ainda que alguns deles não sejam tão relevantes economicamente, e com a remuneração dos funcionários é alto. Esse custo da operação faz parte do spread bancário, sendo repassado ao consumidor.
Obrigado pela leitura! Acesse outros conteúdos na página da ANBC.
Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado