Meios de pagamento instantâneos: um vetor de inclusão financeira na América Latina
Para as novas gerações, será difícil imaginar como se transferia dinheiro antes do PIX. Lançado em novembro de 2020, no meio de uma pandemia, o PIX popularizou-se já nos primeiros meses, permitindo transferências instantâneas, a qualquer hora e dia, sem custo para as pessoas físicas. Essa é uma tendência mundial. Um estudo publicado em março de 2025 pelo Bank for International Settlements (BIS) compilou as evidências mais recentes sobre tema e mostrou que os meios de pagamento instantâneos (FPS – Fast Payment Systems) estão presentes em pelo menos 123 países, sendo 15 na América Latina.
De acordo com o estudo, os maiores mercados para pagamentos instantâneos em 2022, considerando o número de transações, foram Índia, China, Tailândia e Brasil. No ranking de transações per capita, o Brasil aparece em segundo lugar. A experiência internacional mostra que o desenvolvimento dessas tecnologias tem sido liderado pelos bancos centrais, pela iniciativa privada ou por uma parceria de ambos. O caso brasileiro, com o PIX, é citado como um bom exemplo de tecnologia implementada por iniciativa de um banco central, além do SINPE Móvil na Costa Rica e do SPEI no México.
Na América Latina, dentre os países que implementaram os meios de pagamento instantâneos longo dos últimos anos, destacam-se positivamente como casos de sucesso: Argentina, Chile, Colômbia, Brasil e Peru. Os modelos variam entre os países, sendo que o pagamento por QR Code e o uso do número de celular para identificação de um usuário são as funcionalidades mais presentes.
Os benefícios dos pagamentos instantâneos vão muito além da rapidez e da redução de custo das transações. Essa tecnologia tornou-se um vetor de inclusão financeira, com impacto sobre o mercado de crédito e sobre a economia. Como mostra o estudo, a presença de meios digitais de pagamento tem correlação positiva com a bancarização e com a utilização de crédito. Além disso, constata-se uma correlação negativa com o trabalho informal.
Um dos canais de incentivo à bancarização vem do “efeito de rede”, mencionado pelo estudo do BIS: se grande parte dos consumidores e empresas adotam os meios de pagamento instantâneos, que requerem conta bancária ou conta em instituição de pagamentos, o indivíduo que opta por ficar de fora desse sistema terá mais dificuldades para receber e fazer transferências.
Depois de acessar o sistema financeiro com a criação de uma conta, o acesso ao crédito e a outros serviços financeiros, pode ser facilitado com base nos próprios dados gerados pelas transações de pagamentos, completando o ciclo da inclusão. De acordo com o banco de dados Global Findex, 76% dos adultos em todo o mundo tinham uma conta corrente em 2021 e o acesso ao crédito estava disponível em menor escala, com apenas 28% dos adultos contraindo empréstimos numa instituição financeira formal.
Citando o PIX como exemplo, o estudo menciona o impacto dos meios de pagamento instantâneos sobre a concorrência, uma vez que, com a criação desses sistemas, as instituições financeiras de menor porte conseguem atender às demandas de pagamento dos usuários, surgindo como alternativa às grandes instituições financeiras na oferta deste e de outros serviços.
“Um sistema instantâneo de pagamentos (FPS) – como o Pix, no Brasil – pode ter impactos positivos nos mercados de depósitos e empréstimos, promovendo a pressão competitiva de bancos de pequeno porte e instituições não bancárias” (Sarkisyan, 2024).
A base de dados mais ampla sobre a inclusão financeira no mundo é publicada pelo Banco Mundial. Os dados disponíveis até o momento cobrem até 2021. No Brasil, isso coincide com o primeiro ano do PIX. A atualização desses dados permitirá captar com ainda mais precisão o impacto dos meios de pagamento instantâneos sobre a inclusão financeira.
Visto como uma referência internacional, o PIX segue ganhando novas funcionalidades. Recentemente, o PIX automático entrou em funcionamento, permitindo pagamentos automáticos a empresas e prestadores de serviços mediante a autorização do usuário. A funcionalidade surge como alternativa ao débito automático. O desafio da interoperabilidade, que permite que diferentes plataformas interajam de forma segura, é a promessa do Open Banking, concebido para estimular a concorrência. A nível internacional, avança o mundo cashless, trazendo mais segurança nas operações usando cartões de crédito e pagamentos instantâneos.
No entanto, para que o processo de digitalização das finanças se traduza em ampliação do bem-estar, é preciso ir além da infraestrutura tecnológica, considerando que o uso dessas ferramentas requer o letramento digital, financeiro e cibernético, de modo a proteger os usuários de fraudes, prevenir o superendividamento e avançar a resultados sustentáveis.
A inclusão financeira tornou-se, em suma, importante meta de política econômica nos países emergentes e desenvolvidos, como pontua o estudo do BIS. O setor dos birôs de crédito atua em diferentes frentes para promover o crédito sustentável, dando visibilidade ao tema, promovendo a inclusão econômica, fomentando a educação financeira, prevenindo fraudes e contribuindo com alternativas para oferta e recuperação de crédito que permitam garantir o crédito responsável. O avanço tecnológico é certamente mais um aliado na busca por um sistema mais justo, eficiente e inclusivo.
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