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No mundo financeiro, o crédito assume um papel essencial ao conectar agentes econômicos superavitários—com recursos excedentes e disponíveis—aos deficitários, que buscam recursos adicionais para consumo ou investimentos e não podem esperar. Esse equilíbrio dinâmico é vital para o progresso econômico e social, demandando regulamentação robusta, governança eficaz e gestão de riscos estratégica.
A Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), enquanto voz do crédito sustentável no Brasil e no mundo, lidera iniciativas que promovem o uso responsável e eficiente do crédito. Desde a década de 1950, quando os primeiros birôs surgiram paralelamente ao início do Sistema Financeiro Nacional (SFN), essas entidades evoluíram continuamente, incorporando soluções tecnológicas como análise de crédito, prevenção a fraudes e recuperação de ativos. Além de garantirem maior segurança às operações financeiras, essas ferramentas democratizam o acesso ao crédito, elemento indispensável para promover inclusão financeira.
No interior do SFN, destacam-se diferentes operadores de crédito: bancos, cooperativas e instituições não bancárias. Bancos comerciais desempenham funções amplas, captando depósitos à vista e atendendo demandas diversas. Bancos de investimento, por outro lado, oferecem suporte em operações empresariais complexas e no financiamento de longo prazo. Cooperativas de crédito, operando sob a lógica associativista, são essenciais para municípios menos atendidos por grandes instituições. Já instituições não bancárias, como financeiras e agências de fomento, ampliam alternativas de crédito sem captar depósitos diretamente.
Além dos limites do SFN, modelos inovadores têm surgido, contribuindo para diversificar o acesso ao crédito. As Empresas Simples de Crédito (ESCs), estabelecidas em 2019, atendem microempreendedores individuais e pequenas empresas com capital próprio, oferecendo soluções locais e práticas. Plataformas “peer-to-peer” criaram novos caminhos ao conectar investidores diretamente às empresas. Também merece destaque o crescimento dos Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs), que democratizam recursos e permitem maior acesso ao crédito por setores variados.
O papel das empresas privadas na concessão direta de crédito a seus clientes continua relevante, particularmente no varejo. Pequenos comerciantes ainda utilizam o parcelamento direto, enquanto grandes redes consolidam políticas de concessão através de suas próprias financeiras, garantindo critérios e limites responsáveis.
Esse mercado diversificado, que opera tanto dentro quanto fora do sistema financeiro, reflete uma capacidade de inovação capaz de impulsionar o desenvolvimento econômico. Porém, é indispensável que a análise de crédito seja criteriosa, mitigando riscos que possam impactar negativamente empresas e consumidores.
Quanto à sustentabilidade do crédito, as variáveis ESG (Environmental, Social and Governance) vêm ganhando espaço nas análises, consolidando-se como ferramenta estratégica na avaliação de riscos dos negócios. Com essa abordagem, o mercado financeiro avança em direção a práticas que combinam responsabilidade e inovação.
Nos últimos anos, atuando como Presidente da ANBC e representando o país em organizações associadas ao crédito em diversas partes do mundo (Alacred, ACCIS e BIIA), tenho visto que, apesar dos avanços, o Brasil ainda tem espaço para expandir seu mercado de crédito e atingir padrões globais de relação crédito x PIB. Em 2024, por exemplo, o Brasil atingiu uma marca de 54,4%, enquanto nos Estados Unidos, em 2023, esse índice foi de 192%. Apesar das diferenças, o Brasil tem se destacado por implementar soluções inclusivas e inovadoras, reconhecidas como boas práticas em grupos de discussão como o Comitê de Credit Reporting do Banco Mundial, no qual sou representante latino-americano.
Convido você a acompanhar esta coluna mensal para mergulhar nas tendências e transformações do crédito no Brasil e no mundo.