No início do ano, apresentei as principais previsões econômicas para o ano de 2025 para traçar as perspectivas do crédito. Estava clara a importância de acompanhar atentamente o cenário externo e o desenrolar da política tarifária prometida pelo governo americano assim como as projeções de crescimento na China. Passados cem dias, o que era promessa de campanha começou a ganhar forma, o que interfere nos prognósticos para a economia como um todo e o crescimento da China deu uma desacelerada. Algumas incertezas geopolíticas como as guerras na Ucrania e Palestina melhoraram com perspectivas de diminuição das atividades. O que mudou realmente nas projeções? Neste artigo, as previsões também são atualizadas para as principais variáveis econômicas e os pontos de atenção para os próximos meses estão em destaque.
PIB global em deceleração O cenário da economia global atualizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em abril de 2025 projeta crescimento de 2,8% para o PIB global. Se confirmado, o resultado representaria uma diminuição do ritmo de crescimento em comparação com o ano de 2024, em que o PIB global progrediu 3,3%. É importante observar que, no cenário divulgado em 2025, o FMI também previa o mesmo crescimento de 3,3%, acima do previsto agora. A desaceleração deverá atingir as economias emergentes e as economias avançadas com crescimento projetado de 3,7% e 1,4%, respectivamente. A revisão das projeções captura a crescente incerteza diante das tensões comerciais e seus reflexos sobre o comércio e as cadeias produtivas globais. O crescimento do PIB brasileiro é projetado em 2,0%, segundo o FMI. O valor está em linha com as estimativas fornecidas pelo Boletim Focus emitido pelo Banco Central. Trata-se de uma desaceleração do ritmo de crescimento registrado em 2024, quando o PIB avançou 3,4%, conforme dados do IBGE. Essa expectativa de desaceleração já era prevista desde o ano passado e permanece.
Inflação persistente O cenário de inflação persistente também continua. Segundo o relatório do FMI, os avanços no combate à inflação perderam força em alguns países. Em alguns casos, a inflação voltou a crescer e a extrapolar as metas. É o caso do Brasil. Os números do IBGE indicam que o índice oficial de preços do país (IPCA) acumula alta de 5,5% em 12 meses, acima do centro e do teto da meta de inflação, fixada em 4,5%. As previsões para o IPCA foram ajustadas para cima: o primeiro Boletim Focus do ano indicava inflação de 5,0% para 2025, mas as estimativas mais recentes apontam para um número próximo de 5,6%.
Política monetária em compasso de espera A previsão para a taxa SELIC se mantem desde o começo do ano. Segundo o Boletim Focus, a taxa básica de juros deve terminar 2025 fixada em 15% ao ano. Atualmente, o patamar é de 14,25% ao ano. Nos EUA, o FED também optou por compasso de espera: no mês anterior, a autoridade monetária americana manteve a taxa básica de juros entre 4,25% e 4,5% ao ano, aguardando novas definições sobre a política tarifária. A cautela se justifica pelo receio de que essa política possa gerar novo crescimento inflacionário nos Estados Unidos. Uma mudança na trajetória esperada para os juros americanos afetaria o câmbio, com impactos relevantes nas taxas de juros globais.
Crédito e endividamento em ascensão Por várias razões, inclusive estruturais, as projeções continuam indicando crescimento robusto do crédito no Brasil. No entanto, houve uma redução em relação ao previsto no início do ano: em dezembro, previa-se avanço de 9,0% na carteira de crédito; em março de 2025, caiu para 8,6%. Existe consenso de que o crédito continuará a crescer a um ritmo menor do que o observado em 2024. Esse avanço ocorrerá num ambiente de juros mais altos, o que demanda atenção aos dados de inadimplência e endividamento das famílias. Informações dos birôs de crédito mostram aumento no número de consumidores negativados. Em fevereiro, esse número chegou a 75 milhões. Já os dados do Banco Central mostram que o endividamento das famílias voltou a subir, chegando a 48,7% em janeiro de 2025. Esse cenário de crédito mais caro e maior comprometimento da renda com dívidas exige cautela para evitar o superendividamento e o aumento da inadimplência.
Em resumo, o diálogo e a cooperação internacional serão fundamentais para ajuste das relações econômicas, evitar o recrudescimento da inflação e uma desaceleração mais acentuada da economia global. No plano interno, a conjuntura de incerteza demanda uma política econômica focada na estabilidade, frente à crescente vulnerabilidade financeira evidenciada pelos índices de inadimplência.
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