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Reincidência atinge 83% dos negativados e acende alerta sobre uso do crédito

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Cartão foi usado em cerca de 50% das compras turísticas e segue como principal forma de pagamento no turismo; IOF unificado encarece compras no exterior; birôs de crédito alertam para necessidade de reequilibrar orçamento pós-férias

Mais de oito em cada dez consumidores negativados, em maio de 2025, já haviam enfrentado situação semelhante no passado recente. Dados do setor dos birôs de crédito mostram que 83% dos inadimplentes no período eram reincidentes, ou seja, tinham registros negativos nos 12 meses anteriores. Esse resultado reforça o caráter estrutural da inadimplência no Brasil e levanta um alerta sobre a fragilidade da saúde financeira da população.

Entre os reincidentes, 63% já estavam negativados e receberam uma nova anotação no período. Outros 20% haviam conseguido regularizar sua situação, mas voltaram à inadimplência em maio. Apenas 17% dos negativados em maio enfrentavam o problema pela primeira vez nos últimos 12 meses.

“A reincidência revela que estamos diante de eventos recorrentes, sinalizando um desequilíbrio orçamentário mais profundo muitas vezes crônico”, avalia Elias Sfeir, presidente da ANBC. Para ele, a negativação cumpre papel relevante na sinalização de risco no mercado, protegendo tanto os credores quanto os próprios consumidores contra o superendividamento, e a solução de longo prazo requer educação financeira, atitude responsável com o uso do crédito, diagnóstico individual e renegociação responsável.

O ciclo de expansão do crédito continua em curso. Segundo o Banco Central, a relação crédito-PIB passou de 48,5% em maio de 2020 para 54,6% em maio deste ano. Paralelamente, o endividamento também avança. O comprometimento da renda das famílias alcançou 48,9% e a inadimplência voltou a crescer. Cerca de 47,3% da população adulta está com o nome negativado, frente a 44,9% em maio de 2024.

O uso crescente do crédito traz um alerta para o período de férias, quando os gastos com turismo se intensificam. De acordo com dados do Banco Central de maio de 2025, as despesas com viagens internacionais cresceram 7,2% e somaram US$1,8 bilhão, em relação ao mesmo período do ano anterior.
A maior parte dessas despesas é financiada com cartão de crédito, ainda o principal meio de pagamento entre turistas brasileiros. Segundo levantamento feito pelo Paytour, o cartão responde por quase 50% das compras em experiências turísticas. O Pix vem ganhando espaço, com cerca de 35% de participação e alta superior a 50%, frente ao primeiro semestre de 2024. O parcelamento tem sido amplamente promovido pelas agências de viagem e operadoras de turismo como forma de ampliar o acesso aos pacotes.

Sfeir ressalta que o uso do crédito deve ser acompanhado de planejamento. “Quem financia viagens com cartão precisa considerar o impacto das parcelas nos meses seguintes que serão adicionadas a compromissos já assumidos e reorganizar o orçamento. O desequilíbrio começa muitas vezes com despesas desconsideradas”, afirma. O risco aumenta com o encarecimento das operações no exterior. Com a unificação das alíquotas do IOF, todas as transações em moeda estrangeira (inclusive compras com cartão, saques e aquisição de espécie) passaram a ser tributadas em 3,5%, eliminando o diferencial anterior que favorecia o dinheiro em espécie.

Nesse contexto, a recuperação de crédito ganha importância estratégica. Os birôs atuam como fontes de informação, e também como plataformas de reconexão entre credores e devedores. Mutirões de negociação, sistemas online de consulta e a nota de crédito têm contribuído para a regularização das pendências e o reequilíbrio financeiro.

A tecnologia reforça essa frente com o uso de inteligência de dados. Ferramentas analíticas ajudam a identificar perfis com maior chance de recuperação, otimizando a abordagem e reduzindo perdas. A eficácia na renegociação impacta diretamente o custo do crédito. Quanto maior a taxa de recuperação, menor tende a ser o risco embutido nas operações.

 

Para Sfeir, o avanço do crédito exige uma base sustentável. “Transformações regulatórias e tecnológicas são importantes, somente serão efetivas com educação financeira e atitude responsável com o uso do crédito. É preciso formar consumidores conscientes, capazes de usar o crédito como ferramenta de inclusão e bem-estar”, conclui o executivo.

 

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