Fuente: https://cantarinobrasileiro.com.br
O setor de crédito está vivendo uma profunda transformação. Em um ambiente onde
tecnologia, dados e regulação se entrelaçam cada vez mais, cresce a importância do
diálogo internacional e da troca de boas práticas para promover um sistema financeiro
mais eficiente, seguro e inclusivo. A participação em fóruns globais tem revelado
caminhos diversos, mas convergentes, rumo a um crédito mais sustentável — e o
Brasil tem se engajado ativamente nesse movimento.
Na conferência da ACCIS, com executivos europeus, os debates giraram em torno da
proteção de dados, do papel dos birôs de crédito na economia digital e do desafio de
equilibrar privacidade e acesso à informação. Um dos aprendizados centrais foi a
necessidade de adaptar os marcos regulatórios para garantir o uso responsável dos
dados, sem comprometer a inovação e o uso da inteligência artificial (IA) para ampliar
a visibilidade para o crédito e o desenvolvimento de algoritmos. A presença brasileira
nesse contexto tem reforçado o alinhamento com tendências globais e fortalecido o
intercâmbio de soluções que conciliam segurança, inclusão financeira e transparência.
Esses avanços ficaram evidentes durante minha participação no “Fórum Colaborativo
sobre o Sistema de Reporting de Crédito”, promovido em Angola. Compartilhei
experiências da América Latina e globais, com ênfase no cenário brasileiro, que há
alguns anos apresentava desafios muito semelhantes aos que Angola enfrenta
atualmente. A troca com atores locais evidenciou como o crescimento sustentável do
crédito pode ser impulsionado por estruturas adaptáveis e bem reguladas, adequadas
à realidade de mercados emergentes.
A inovação tecnológica tem sido outro eixo central nessas discussões. Em eventos na
Ásia, como o ICCR Asia Pacific Regional Meeting e a BIIA Conference 2025, os temas
abordados incluíram o uso de inteligência artificial, Open Banking, Bureau Agro e
cibersegurança.
Em minha contribuição, destaquei como, no Brasil, o uso estratégico da IA já tem
gerado resultados concretos — como a atualização imediata de scores com dados
alternativos, decisões automatizadas que reduziram o tempo de análise de dias para
minutos, aumento na taxa de aprovação, queda nas perdas por inadimplência e
fraudes, e plataformas que tornam o desenvolvimento de modelos preditivos mais
rápido, preciso e acessível.
Destaquei os requisitos necessários para que a tecnologia seja Human Centric AI, ou seja, para que a IA seja usada cada vez mais para aprimorar, não substituir, as habilidades naturais das pessoas. Ao mesmo tempo, ficou evidente o consenso global sobre a importância de estruturas de governança que evitem distorções, como vieses algorítmicos e exclusão digital.
As experiências brasileiras — que incluem avanços como o cadastro positivo, o novo
birô especializado no agronegócio e a consolidação do Open Finance — têm
despertado interesse internacional. Ao mesmo tempo, aprendemos continuamente
com iniciativas de outras regiões, sobretudo em governança de dados, educação
financeira e mecanismos de supervisão tecnológica.
Mais do que apresentar soluções prontas, nossa atuação internacional busca
contribuir para a construção conjunta de um sistema de crédito mais resiliente, ético e
conectado aos desafios do século XXI. O intercâmbio entre países e instituições é
fundamental para evoluir de forma sustentável, equilibrando inovação com responsabilidade.
O crédito crossborder está em gestação e será impulsionado pelas CBDCs (Central Bank Digital Currency) viabilizando operações financeiras internacionais. Da mesma forma, informações de ESG têm se destacado como uma variável essencial na avaliação do crédito.
A jornada rumo a um crédito mais sustentável será coletiva — e a contribuição
brasileira, ao lado de tantas outras, mostra que estamos prontos para construir juntos
esse futuro.