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Um retrato do crédito nos últimos meses

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Detalhamos, no início da pandemia, as medidas tomadas pelo governo e pela autoridade monetária para garantir o acesso ao crédito. Os números divulgados até aqui mostram que essas medidas funcionaram durante o segundo trimestre e nos primeiros meses do terceiro trimestre.

De acordo com dados do Banco Central, o saldo de crédito para pessoas jurídicas cresceu 16,7% na comparação entre agosto de 2020 e o mesmo mês do ano anterior. Analisando os dados por tamanho de empresa, constatamos um aumento de 14,8% para aquelas de grande porte e de 20% para as médiaspequenas e microempresas, também na comparação entre agosto de 2020 e o mesmo mês do ano anterior.

Fazer o crédito chegar aos pequenos negócios foi uma preocupação global e o governo ensejou medidas como a criação de linhas de crédito como o PRONAMPE. Os dados mostram que as medidas atenderam à parte da demanda dessas empresas e também revelam que os esforços produziram algum efeito.

Para pessoas físicas, o saldo de crédito apresentou crescimento de 8,8%, na comparação entre agosto de 2020 e o mesmo mês do ano anterior, apesar da retração das modalidades de cartão de crédito e cheque especial. Cumpre destacar, ainda, um avanço das concessões de crédito para fins de renegociação.

Dados de outras economias também mostram uma recuperação dos indicadores de crédito. Segundo o Bank of England, em julho de 2020, os empréstimos superaram as amortizações pela primeira vez depois de quatro meses, embora ainda permaneçam abaixo da média de antes da crise. Nos Estados Unidos, o FED – Banco Central americano – informou aumento do crédito não rotativo, também referente a julho de 2020.

Refletindo a queda da taxa SELIC, as taxas de juros caíram na ponta. Em agosto de 2020, a taxa média para pessoas físicas foi de 24% comparada com 41,2% no final de 2016. Observamos o mesmo comportamento na taxa média de juros cobrada das empresas, que passou de 17,5% ao ano no auge da crise de 2015-2016 para 11% em agosto de 2020.

Os dados de inadimplência também mostraram recuo nos últimos meses, depois de um avanço entre abril e maio, com o impacto imediato da pandemia. De acordo com o Banco Central, a taxa de inadimplência para empresas foi de 1,8% em agosto de 2020, depois de ter alcançado 2,3% em maio. Já a taxa de inadimplência para pessoas físicas foi de 3,3%, depois de alcançar 4% em abril.

Até aqui, as medidas geraram alguma mitigação dos impactos da crise sobre os negócios e as famílias. No entanto, alguns números sinalizam a necessidade de cautela. No caso da inadimplência, os dados do Banco Central refletem as iniciativas de incentivo à renegociação de dívidas e consideram somente as dívidas bancárias. Olhando para o quadro geral da inadimplência, de acordo com dados do setor de birôs de crédito, o número de negativados aproximava-se de 64 milhões no início da pandemia, um recorde histórico. Daqui para frente, esse número merecerá muita atenção, já que o espaço de renegociação e os créditos emergenciais estão próximos de acabar. Cada setor econômico terá processo distinto de recuperação e passará a operar em nova dinâmica de negócios.

Depois de completada a travessia, o desafio será minimizar os riscos de uma crise de endividamento, tanto do setor público quanto do setor privado. Quanto mais vigorosa for a retomada econômica, e quanto mais cedo vier a solução para o problema sanitário, maiores as chances de sucesso.

 

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elias sfeir

 

Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado

 

 

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