Cidadania financeira

O primeiro passo para uma pessoa fazer parte do sistema financeiro de um país é abrir uma conta bancária. A partir dela, o cidadão passa a ter acesso a diversos produtos e serviços financeiros que, se bem usados, contribuem para o progresso patrimonial.

Com o desenvolvimento profissional e, por consequência, do patrimônio, essa mesma pessoa conquista o acesso a produtos e serviços financeiros mais rentáveis, mais baratos e de menor risco.

Além da constante avaliação da renda, o critério usado pelas instituições financeiras para conceder benefícios como aumento do limite mensal do cartão de crédito e financiamento de carro ou imóvel a juros menores é o histórico de crédito pessoal.

Passa por análise a capacidade de pagamento com o auxílio dos birôs de crédito, que compilam dados sobre indivíduos e empresas de pequeno porte, tais como histórico de pagamento de contas, pendências judiciais e possíveis insolvências ou falências, criando assim relatório de crédito abrangente.

Inclusão financeira no mundo
Dos 3,2 bilhões de pessoas no mundo que possuem contas voltadas para transações financeiras, 97% mantêm a conta em uma instituição financeira, de acordo com estudo divulgado no ano passado pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF na sigla em inglês).

Mais de 90% dos 721 milhões de contas abertas entre 2011 e 2014 foram em instituições financeiras, de acordo com o banco de dados Global Findex, que pertence ao Banco Mundial. Por instituições financeiras, devemos considerar bancos comerciais, que concentram a grande  maioria das contas, além de cooperativas, instituições de microfinanças e bancos postais como os Correios no Brasil.

Há diversas etapas que devem ser consideradas para classificar o grau de inclusão financeira de um país. A primeira delas diz respeito ao contingente da população que tem uma conta de transação financeira ou conta bancária.

A etapa seguinte refere-se às opções de serviços e produtos financeiros usados pela população. A última fase envolve a capacidade de poupar. Não há como ser bem-sucedido ao se aplicar o dinheiro sem conhecer as possibilidades de investimento e como essas opções variam conforme o desempenho dos índices econômicos – da taxa básica de juros, por exemplo. E essa já é a etapa de educação financeira.

O Brasil caminha para completar apenas o primeiro passo, já que a maior parte da população não usa serviços e produtos tidos como mais complexos e próprios de países desenvolvidos. O brasileiro também encontra dificuldades para economizar, ainda mais em um momento de grave crise econômica, desconhecendo inclusive as opções de investimento mais básicas.

O primeiro passo da inclusão financeira
O Brasil tem hoje um dos mais altos níveis de penetração de conta bancária na população entre os países emergentes. De acordo com o Global Findex, do Banco Mundial, 56% dos adultos brasileiros possuem ao menos uma conta bancária. Ao considerar a América Latina, a média é muito mais baixa, estando hoje em 39%. O desempenho brasileiro coloca o país à frente de países com renda média per capita superior como a Argentina, com 33% da população possuindo conta em banco, o Chile, que tem 42%, e o Uruguai com apenas 24%.

Os fatores apontados pelos especialistas como decisivos para essa situação são a expansão dos bancos estatais, que passaram a atender diretamente a população de municípios mais pobres, o crescimento das microfinanças e das cooperativas, assim como a evolução da base da pirâmide econômica devido em parte aos programas de transferência de renda como o Bolsa Família.

Todos os municípios brasileiros, de acordo com o Banco Central, têm acesso ao atendimento de uma instituição formal financeira, que entrega ao menos os serviços básicos. Em muitos deles, existe uma agência dos Correios.

Nos últimos anos, o Banco Central encorajou as instituições financeiras a chegar aos consumidores e às comunidades mais distantes, locais de baixo poder aquisitivo que sofriam com a falta da cobertura. A parceria com o comércio local por meio da abertura de caixa eletrônico foi uma das saídas encontradas pelos grandes bancos privados.

Há, no entanto, espaço para avançar quando se compara a penetração de conta bancária com aquela ostentada pelos países desenvolvidos, que contam com porcentagem superior a 90%. Em alguns deles, nada menos que 100% da população possui ao menos uma conta bancária. É o acesso bancário universal que permite sistema financeiro mais justo e com taxas de juros menores. Isso porque as instituições financeiras têm possibilidade de usar informações de alta qualidade e confiabilidade sobre os clientes.

A China, com 64% da popularização bancarizada, porcentagem pouco superior à do Brasil, caminha para essa situação de universalidade. E só não está mais adiantada porque teve, inicialmente, dificuldade de desenvolver o interior do país, mas, com a superação desse problema, o percentual de população bancarizada vem crescendo muito nos últimos anos.

Os passos seguintes da inclusão financeira
Para FMI e Banco Mundial, que divulgaram em 2013 o relatório “Financial Inclusion in Brazil: building on success”, o brasileiro busca o sistema financeiro na maior parte das vezes para pagar contas básicas como água e luz e receber os benefícios de programas sociais do governo.

Além de injetar recursos na economia, o Bolsa Família exige que as pessoas façam parte do sistema financeiro para receber o benefício, já que o dinheiro é distribuído em cartões eletrônicos vinculados à CEF – Caixa Econômica Federal. Por causa do programa, a estimativa é que mais de dois milhões de beneficiários tenham aberto conta bancária na CEF. O relatório afirma, no entanto, que a gama de serviços financeiros, como poupança, crédito e seguros, ainda não está disponível para muitos consumidores, sobretudo os de baixa renda.

Já o instituto Brookings, think tank sediado na capital dos Estados Unidos, por meio do seu relatório de inclusão financeira e digital, apontou no ano passado que o Brasil deve estimular o ato de poupar, principalmente entre os cidadãos de baixa renda e de comunidades rurais.

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