- 30/09/2022
- Posted by: ANBC
- Category: Blog

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Os dados da atividade econômica reservaram surpresas ao longo deste ano. A inflação subiu muito além do que se previa, mas o PIB também reagiu e cresceu mais do que se esperava. Caminhando para o quarto e último trimestre, como esses dados estão impactando a situação financeira do consumidor? Entender o momento do consumidor é um passo fundamental para avaliar o desempenho do consumo e, em particular, do consumo por meio do crédito.
Há vários indicadores que permitem olhar para a saúde financeira dos consumidores. Comecemos pelo desemprego. Essa variável é medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e mensura o contingente de pessoas que estão sem trabalho e que buscam oportunidades. O desemprego subiu durante a recessão iniciada em 2014 e durante a pandemia. Depois de alcançar um pico no primeiro trimestre de 2021 (14,9%), a taxa de desemprego vem recuando – e de forma até mais intensa do que a observada após a recessão de meados da última década.
O último dado do IBGE mostra que, no segundo trimestre de 2022, o desemprego atingiu 9,3%. Foi o menor índice observado desde o final de 2012. Sabemos que o movimento recente de diminuição do desemprego alivia o drama de muitas famílias, além de favorecer o acesso a bens e serviços.
Por outro lado, a renda média real do trabalho, também apurada pelo IBGE, ainda está muito abaixo da observada antes da pandemia. Essa renda é denominada “real” porque corrige a renda nominal pela evolução dos preços, permitindo a comparação entre diferentes períodos. Houve, com efeito, uma recuperação da renda nos últimos meses que ainda é insuficiente para restabelecer os patamares anteriores a março de 2020.

O mercado de trabalho, que registra queda do desemprego, favorece o consumo e a contratação de crédito, ainda que haja limitação da renda real, corroída pela inflação. O aperto da renda parece refletir nos dados de endividamento. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o percentual de famílias endividadas – adimplentes ou inadimplentes – alcançou patamar recorde, de 79%.
Chega um momento, porém, em que a capacidade de endividamento ultrapassa o limite, podendo a inadimplência se manifestar. Os birôs de crédito contribuem para o acompanhamento da situação dos consumidores por meio dos seus indicadores de inadimplência. As divulgações mais recentes mostram avanço no número de consumidores negativados nos últimos meses. As estimativas indicam mais de 67 milhões de consumidores com alguma restrição no nome, um número recorde na série histórica.
Diante desse quadro, a confiança do consumidor também tem se mantido abaixo dos patamares observados antes da pandemia. Em sondagem realizada no último mês de agosto pela Fundação Getulio Vargas (FGV), com base em uma escala de zero a 200, a confiança dos consumidores foi de 83,6 pontos. Acima de 100 pontos, esse indicador demonstra otimismo. Ao captar o humor dos consumidores com relação às próprias finanças e à economia, ajuda a prever a disposição para o consumo.
A baixa confiança é um fenômeno ainda verificado em outras partes do mundo. Dados da Comissão Europeia mostraram que o índice de sentimento econômico na Zona do Euro voltou ao menor patamar desde novembro de 2020. Esse indicador reúne a percepção dos setores produtivos e dos consumidores. Nos Estados Unidos, o Indicador de Confiança dos Consumidores subiu nos últimos meses, mas permanece abaixo do observado antes da pandemia.
Vistos em conjunto, esses dados mostram que o pior da crise já passou com algumas dificuldades ainda persistindo na vida financeira dos consumidores. Nesse contexto, o importante é que se criem condições para que a recuperação prossiga, aqueça o mercado de trabalho e possibilite avanços na renda real.
O avanço do crédito, por sua vez, deve ter a contrapartida de bons indicadores do mercado de trabalho e bons fundamentos econômicos, sob pena de se criar um desequilíbrio ou até mesmo uma crise. Os birôs seguirão monitorando o quadro do consumidor em seu propósito de mitigar o risco de desequilíbrios e na expectativa de que o país complete a recuperação das perdas sentidas na última década.
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