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O crédito estudantil no Brasil

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O tema da educação pautou os últimos artigos. Refletimos sobre a importância do ensino de finanças pessoais nos currículos escolares e sobre como a sociedade civil tem se mobilizado para levar esse tema aos brasileiros de maneira geral. A discussão foi sobre como o conhecimento pode melhorar a relação com o crédito e demais serviços financeiros. Neste artigo, voltamos ao tema da educação, agora adotando outro ponto de vista: como o crédito pode ampliar o acesso ao ensino formal profissionalizante?

No Brasil, o crédito estudantil é quase sempre associado ao programa FIES, criado em 2001. Esse programa tem um caráter social, com taxa de juros real zero para estudantes com renda familiar de até três salários-mínimos e um período de carência que se estende até a conclusão do curso. O programa também atende estudantes com renda familiar mais elevada através da modalidade P-Fies, em que as condições do contrato são firmadas com as instituições financeiras.

Apesar dos méritos do programa, as dificuldades do FIES têm sido amplamente divulgadas nos últimos anos. De acordo com dados do Ministério da Educação, o número de novos contratos através do FIES caiu ao longo dos últimos anos, passando de 203 mil em 2016 para cerca de 48 mil em 2023. Por outro lado, a inadimplência avança. Nesse mesmo horizonte de tempo, a taxa de inadimplência do programa passou de 36,8% para 57,0%.

Instituições financeiras e fintechs também oferecem crédito estudantil fora do programa governamental. Essa é uma possibilidade para estudantes e famílias que buscam cursos com mensalidade mais elevada ou mesmo para aqueles que enfrentam imprevistos e que necessitam de um alongamento dos prazos e redução das parcelas, evitando o trancamento do curso e, consequentemente, o adiamento de um projeto pessoal.

O crédito privado estudantil tem as suas especificidades. Esse crédito é diferente, por exemplo, do crédito concedido para a compra de um eletrodoméstico ou outro bem de consumo. Quem busca uma especialização tem, normalmente, a expectativa de alcançar um retorno financeiro no futuro, o que, em tese, aumentaria a capacidade de pagamento do tomador.

Por outro lado, o perfil de quem se beneficia do crédito estudantil, um público geralmente mais novo é o de quem tem pouco histórico de relacionamento com o sistema bancário. Surge, então, a questão de como analisar esse público com os instrumentos tradicionais e se haveria outras formas de mensurar o risco das operações.

Os desafios e oportunidades para esse mercado foram debatidos em um painel recente organizado pela Cantarino Brasileiro, em que participei como mediador. O evento contou com a presença de instituições financeiras que atuam nesse segmento e do setor de birôs de crédito. O desafio da análise do crédito estudantil foi colocado em debate. Os participantes da mesa destacaram que é preciso agregar à análise tradicional uma análise sobre as potencialidades daquele financiamento, o que envolve uma avaliação sobre a instituição de ensino, o curso, a fim de estimar o retorno financeiro para o aluno em termos de remuneração.

Um estudo da Elleven, fintech que atua no setor, , mostrou um aumento médio de 38% na remuneração de estudantes que obtiveram crédito estudantil após 18 meses da contratação. Esse resultado é importante porque mostra um retorno positivo do estudo sobre a remuneração mesmo antes da conclusão do curso. A renda aumenta, por sua vez, a capacidade de pagamento do estudante e reduz o risco da operação. A discussão ainda apontou outro modelo de concessão de crédito estudantil, que coloca o financiamento como um projeto familiar.

Para o setor dos birôs, até mesmo a análise tradicional já é mais sensível para captar o comportamento de crédito do público mais jovem e desbancarizado graças à ampliação da visibilidade para crédito e a diversidade de bases de dados utilizadas nos modelos de predição. Para além da concessão, a gestão do crédito concedido, incluindo a recuperação no caso de inadimplência, pode ser beneficiada com o uso de inteligência de dados.

Em suma, três lições podem ser destacadas do painel: a necessidade de dados complementares para análise dessa modalidade específica de crédito; a importância de atrelar a educação financeira à tomada de crédito através de cursos de curta duração para os pleiteantes e complementariedade entre a atuação da iniciativa privada e do governo.

Como as demais modalidades de crédito, há espaço para essa modalidade crescer de maneira sustentável, alavancando o bem-estar social. Os dados mais recentes, sobretudo do FIES, indicam a necessidade de aprimoramentos na política de análise e constante avaliação das instituições de ensino O crédito estudantil pode viabilizar um instrumento de transformação de vida, abrindo novas perspectivas profissionais e, consequentemente, de realização pessoal.

Crédito estudantil

 

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elias sfeir

 

Por: Elias Sfeir Presidente da ANBC & Membro do Conselho Climático da Cidade de São Paulo & Conselheiro Certificado

 

 

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